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SEÇÃO
Crônicas
19/05/2008 - 16h05
A Santa
Evelyne Furtado
 

Ele saiu e Santa ficou em casa. Ainda havia a louça do café para pôr na máquina, terminar a maquiagem, dar uma última olhada no espelho e correr para o trabalho. Santa já chegava ao trabalho cansada, afinal acordara com o beijo contumaz do marido às 5h30. Ele faria a sua corrida matinal. Ela começaria a preparar o desjejum das crianças. Depois iria acordá-las.

No começo era gostoso dar cheirinhos nos filhos - dois meninos de sete e nove anos - como não acordavam assim, puxava os cobertores, abria as cortinas. Terminava dando uns gritos e empurrando-os para o banheiro.

Quando ele retornava da corrida, a mesa estava pronta, as crianças sentadinhas à mesa e ela as servindo, enquanto comia apressada e bebia uns goles de café. Santa era uma profissional respeitada e querida pelos colegas, que quando a viam chegar, meio esbaforida, perguntavam sempre porque ela não aproveitava a carona do marido. Ela respondia que assim era melhor, pois as crianças não chegariam atrasadas ao colégio, calando-os, pois ninguém tinha mais disposição para argumentar.

Ele deixava as crianças com buzinadas na porta do colégio e seguia para o escritório de advocacia onde era sócio. Passava direto para a sua sala e ligava pedindo à secretária nova para providenciar seu capuccino com torradas. Lia o jornal, enquanto esperava. Quando a moça entrava, ele a fazia sentar, pois não gostava de beber ou comer só. Falava do tempo, perguntava pela vida dela, dizia-se entediado, pois não dormira bem. Sua mulher tinha enxaquecas terríveis e ele passava a noite cuidando dela. Coitada, era muito nova, mas há muito não tinha uma vida normal. Uma noite era enxaqueca, na outra estava cansada demais. Uma Santa! Não tinham vida sexual há algum tempo.

A moça escutava entre cética e quase querendo acreditar. Ele era bom nisso. Foi atencioso, desculpou-se por desabafar com ela e pediu reserva daquela conversa. A moça deixou a sala sentindo-se privilegiada por estar se tornando confidente do seu chefe, um cara tão novo e com uma vida tão chata.

Ele já a olhava com cara de quem preparava um novo jantar. A qualquer hora iria saboreá-lo. O dia passou rápido para ele graças aos intervalos usados para ligar para a próxima presa com qualquer desculpa. Já começava a ver reciprocidade no olhar.

Em seu trabalho Santa desempenhou suas tarefas como sempre. Conversou com amigos, principalmente com o colega que mais se importava com ela, mas que ela nem percebia que havia algo mais naquele companheirismo.

Chegou em casa correndo para preparar o jantar. Depois que as crianças dormiram, foi para o quarto esperar o marido, que reclamou mais uma vez do cansaço. Fizeram um sexo rápido, sem paixão, ao qual ela correspondeu com tristeza disfarçada. Depois ele a beijou na testa e disse: "você é minha mulherzinha, nunca irei deixá-la". Virou para o lado e adormeceu pensando na nova secretária. Santa, ao contrário, não conseguiu dormir, sentia-se ferida, mas ainda não descobrira o por quê.


Nota do Editor: Evelyne Furtado é jornalista, poetisa e cronista em Natal (RN).

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