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Opinião
20/05/2008 - 17h17
Cães de aluguel
Dartagnan da Silva Zanela
 
"Cometem-se muito mais traições por fraqueza do que em conseqüência de um forte desejo de trair". (François de La Rochefoucauld)

É interessantíssimo vermos como a sociedade brasileira hodierna festeja as figuras que se colocam a frente de movimentos políticos de massa (ou sociais, se preferirem). É curioso como as pessoas apontam para esses elementos como sendo bons exemplos de uma conduta cidadã ou, em resumidas palavras, um elogio gratuito e desmedido para indivíduos que nada fizeram e nada fazem para realmente dignificar a pessoa humana.

A figura que me vem a mente sobre o assunto citado é justamente a dos ufanados líderes estudantis ou mesmo dos tarefeiros menores que engrossavam e ainda hoje avolumam as fileiras destas organizações.

Neste ínterim, é interessante que lembremos que a identidade de um indivíduo é definida pelo que o indivíduo é e, este ser, afirma-se a partir do fim ao qual este afirma fiar o seu existir. Neste sentido, o que define a natureza de um estudante é o ato de estudar, e nada mais. Este ponto, que nos é lembrado por José Ortega y Gasset, é bastante simples e, por essa mesma razão, fundamental. Dito isso, indago ao amigo leitor: aponte-me um destes militantes de movimentos ditos estudantis, politicamente doutrinados, que seja realmente um estudante, um indivíduo que dedica-se piamente ao estudo?

Não raro vemos esses “estudantes críticos” quase jubilando em seus cursos, visto que, passam boa parte de sua vida acadêmica enfiados em tramóias e coisas do gênero ao invés de estarem dedicando-se a sua obrigação primeira.

Lembro-me como se fosse ontem os dias em que militei no movimento estudantil. Fora uma época de grande aprendizagem, pois sempre fui um estudante de fato, não apenas de nome. E o que esses olhos testemunharam? Tudo, menos manifestações de interesse estudantil ou educacional no sentido lato.

Muitas seriam as histórias que eu poderia contar. Todavia, me restringirei a apenas uma delas. A que se refere aos preparativos para os 500 anos de Descobrimento do Brasil. Em 1999 estava eu no terceiro ano do curso de Licenciatura em História e, quando me fiz presente no primeiro encontro dos Estudantes de História da Região sul (realizado na cidade de Tramandaí – RS), foi decidido que todos dariam aulas, palestras, organizariam eventos e coisas do gênero para contar nas escolas e para as comunidades uma visão diferente da história do Brasil que estava sendo contada pelos meios de Comunicação de massa (em especial, a versão da Rede Globo de Televisão).

No ano seguinte, no segundo encontro, que foi realizado na cidade de Florianópolis – SC, a idéia era de relatarmos nossos trabalhos e fazermos um balanço do que foi realizado. Aí, esse simplório missivista que vos escreve lhes pergunta: adivinhem quantos estudantes que participavam do movimento estudantil realizaram as ditas atividades? Apenas eu, Dartagnan Zanela e mais uma amiga e um amigo meu e duas garotas do Rio Grande do Sul. Os demais, apenas falavam bem alto e grosso no encontro para parecerem uns mais críticos que os outros, outros apenas preocupados em beber, uns em “debater” questões vazias e, se possível fosse, ao final de tudo, destruir o relógio-monumento da Rede Globo na cidade de Florianópolis em uma marcha apoteótica, de modo similar ao que tinha sido feito na cidade de Porto Alegre dias antes da realização do encontro em Floripa.

Ousei colocar-me contra tal disparate. A conseqüência foi óbvia: foi-me afixada a imagem de pequeno burguês, acomodado e, obviamente, alienado.

Para finalizar, digo que não tiro a legitimidade da existência de agremiações que tenham por objetivo realizar esse tipo de coisa. O que questiono é justamente o fato de se atribuir a esses grupos de agitação política e esbórnia gratuita o nome de “movimento estudantil” como se faz em nosso país até os dias de hoje.

Aliás, esse tipo de caricatura societal não é literalmente uma imagem nua e cura do que das lições turvas que são ensinadas atualmente por inúmeros professores brasileiros?


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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