O que será que passa nas cabeças dos terroristas suicidas? Eles renunciam ao único bem que possuímos de fato, a vida. Renunciam ao direito de existir. A pessoa vem ao mundo independente da vontade, nem sempre por vontade de alguém, muitos aqui aportam por obra do acaso. Já que aqui estão, ou melhor, já que aqui estamos, e não temos lembrança de ter estado em outro lugar, salvo alguns casos relatados e nunca comprovados de crianças que lembram de outras vidas, aqui queremos continuar. Nunca conheci alguém que não tivesse medo de morrer. A aniquilação, o não existir, é um estado difícil de ser assimilado pela mente do homem. Na verdade nunca deixaremos de existir, a dúvida é se a consciência sobreviverá à transmutação que chamamos morte, quando os átomos que compõem o nosso corpo vão se organizar em outras formas de existência. De qualquer modo, eu não gosto da idéia de morrer, embora não tenha demasiado temor do fim. Tenho, misturado com o medo, uma imensa curiosidade. Se nada houver depois do desenlace final, o Mundo terá deixado de existir, aliás, o Universo só existe porque existimos. Já os terroristas morrem e matam por causas nem sempre definidas, matam em nome de ideologia, de religião, morrem em nome da liberdade sem saber que nada será mudado enquanto não mudar a forma do homem entender a vida. A vida é para ser vivida aqui, a maioria das pessoas passa a vida cuidando da "vida" após a morte, sem saber, sem ter nenhuma evidência da existência de tal continuidade. Pensando num futuro feliz, vivem um presente infeliz, a melhor definição de inferno.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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