A saída da Marina Silva do governo Lula mostrou os limites da causa ambientalista mesmo dentro de uma estrutura de poder que ideologicamente abraça suas teses. Levadas ao pé da letra, as teses dos ambientalistas invertem a relação do homem com a natureza, ficando aquele sujeito aos caprichos do meio. Falar em direito dos animais ou dos vegetais não é apenas tolice, é a negação do real no limite da loucura. A natureza é para o homem, não o homem para a natureza. De novo ficamos aqui diante da segunda realidade gnóstica, resultado da rebelião do homem contra Deus, de uma maneira muito crua e didática. Ocorre que esta segunda realidade só pode ser mantida no nível do discurso, não pode cercear a práxis, sob pena de inviabilizar a civilização, a vida humana ela mesma em sua manifestação banal. Marina Silva, coerente, saiu do governo, como o fez o pessoal do PSOL ao perceber que Lula não “avançaria” no socialismo maluco como queria a gente dessa sigla. Tal “avanço” retiraria de Lula as condições de exercício de poder. É provável que Marina Silva tenha se ido antes de dar as concessões para as hidrelétricas da região amazônica. Ora, como haverá de ter desenvolvimento sem energia, a ser obtida das fontes disponíveis? Como renunciar a esse recurso natural? Pura estupidez, nada há que justifique uma escolha errada dessa que não a loucura da busca pseudo realidade criada e mantida como bandeira política. Lula e seu governo tiveram que se ater ao princípio de realidade, portanto, no que fizeram muito bem. Mas Lula, precisando eleitoralmente da bandeira ambientalista, colocou no lugar de Marina Silva um outro alienado da causa, ainda não sei em que escala, se mais ou menos alienado do que a sua antecessora. Os jornais noticiam que Carlos Minc, o novo ministro, anunciou sua disposição de apreender gado em pastos supostamente feitos em áreas ilegalmente desmatadas da Amazônia. Chamou a sua iniciativa de “Boi pirata”. Ora, a Amazônia Legal já responde por 36% do rebanho nacional, que alimenta o Brasil e tornou nosso país o maior exportador mundial do produto, ou seja, matando a fome de muita gente. Não há substituto mais barato para a carne brasileira no mercado mundial. Onde será que o ministro amalucado vai pôr esses bois apreendidos (se é que os vai apreender)? É doido de pedra. Quero ver os burocratas de Brasília catando bois no pasto, os mais perfeitos vaqueiros do asfalto que se tem notícia. Obviamente que haverá um choque aberto entre a realidade como ela é e a realidade idealizada do ministro Minc. O presidente Lula já deverá estar a escolher um novo nome para a Pasta, pois um alienado desses não pode durar no cargo. Se ele se limitasse a participar de convescotes com seus pares ideológicos e a agitar bandeiras de ordem da causa sem atrapalhar o governo poderia até durar no cargo; fazendo esse confronto com a realidade das coisas terá que ir-se. Marina Silva pelo menos não carnavalizava sua atividade, era séria e recatada como uma índia da floresta. Carlos Minc parece ter saído direto do abre-alas de uma escola de samba. Sua ação é ridícula. O discurso de Lula em favor do etanol, tirante seu lado populista e eleitoreiro, está correto. Em nada combina com essa doideira do ministro do Meio Ambiente. Ainda bem que é Lula quem detém o poder e não esse parvo novo vaqueiro do asfalto. O senso de realidade precisa prevalecer. Não pense você, caro leitor, que não sou sensível à preservação do meio ambiente. Explorar racionalmente os recursos naturais é uma obrigação religiosa. O homem precisa cuidar bem daquilo que dadivosamente foi colocado pelo Criador à sua disposição, não deve se tornar um depredador irracional. Mas a relação correta é que as coisas estão à disposição do homem e não o contrário. Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.
|