Sete de setembro, dia da independência. Eu gostava desse dia. Como morava próximo ao Campo de Marte, em São Paulo, ficava horas prestando atenção na chegada dos aviões do desfile. Nos dias próximos chegavam B-26, P2V-Netune, inúmeros Beech-Bi e DC-3, Catalinas, mas os que mexiam com a minha imaginação eram os caças Gloster-Meteor, cujo som dos motores ainda vive na minha cabeça, embora eu esteja falando de quase meio século atrás. No dia sete eles sobrevoavam as tropas do exército que desfilavam no Anhangabaú, para onde íamos de bonde cara-dura, saindo da avenida Vautier. Na adolescência fiquei de mal com os militares. Eram muito moralistas, confundiam as coisas. Proibiram filmes, livros e criaram um clima falso ao apregoar que éramos os melhores do mundo em tudo. Quando o país acordou, a decepção foi grande. Bem, errar é humano, seria bom se a vida tivesse segunda época, se vivêssemos dez anos e depois pudéssemos voltar para corrigir os erros. Infelizmente não é assim, mas continuo achando os desfiles militares de sete de setembro interessantes, fazem parte das tradições do país. Só não vou ver de perto porque não gosto de multidões e também porque moro em Ubatuba, longe do Anhangabaú. Além disso, não existem mais os Gloster, e o que é muito pior, não existem mais os amigos de conversas sobre aviação. Os que estão vivos moram longe, o que me dá, às vezes, sensação de angústia e solidão. Passa quando ouço Bienvenido Granda.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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