O Presidente Lulla abriu, na noite desta quinta-feira de 5/6/2008, a 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBTS) em Brasília. Confesso que fiquei perplexo e embasbacado ao ficar sabendo que Lulinha Paz e Amor era um “simpatizante” da causa. Quem diria! A julgar por algumas de suas declarações anteriores, tudo levava a crer que ele padecia de homofobia, esta doença da qual padecem todos os porcos machos chauvinistas, aqueles que sentem fortíssima repelência pelo mesmo sexo e apreciam bastante a alteridade. Lembro-me bem que certa feita, estando a discursar em Pelotas (RS), Lulinha Paz e Amor fez uma referência bastante injuriosa aos pelotenses de sete costados. Disse ele que Pelotas era conhecida como um “pólo de exportação de viados”. [i.e. “homossexuais”, com mil perdões pelo baixo calão de nosso Supremo Mandatário]. Com isso, o Presidente correu o sério risco de um pelotense de pavio curto, desses que não levam desaforo para casa, querer ir às vias de fato, partir para cima do injuriador e desferir um potente joelhaço que nem aquele que o analista de Bagé só não deu num jornalista que o entrevistou - perguntando se ele já tinha experimentado um bafo quente no cangote - porque ele era da “imprensa nanica” e o analista não era um “prevalecido”, segundo suas próprias palavras. Talvez aconselhado por algum assessor agraciado pelo bom senso e pelo conhecimento do savoir-faire político, Lullinha Paz e Amor retratou-se diante do povo de Pelotas dizendo que não teve a intenção de ofender ninguém. Podia não ter, mas ofendeu de fato! E como dizia o autor de O Retrato de Dorian Gray: “Um homem educado nunca ofende sem querer ofender”. Com sua expressão politicamente incorreta, Lulinha Paz e Amor nada mais fez do que reproduzir um antigo preconceito em relação aos pelotenses, um arraigado estereótipo disseminado em todo o Brasil não se sabe por quem. Mas como todo mundo sabe, todo estereótipo é resultado de uma generalização abusiva. Por exemplo: sabedor de que a afirmação: “Ao menos um pelotense é viado” é verdadeira - pois viados há, em maior ou menor número, em todas as cidades do mundo, até em Garanhuns (PE), terra de cabras machos – é feita uma falsa generalização: “Todos os pelotenses são viados”. Ora, há ao menos um vivente que é pelotense, mas não é viado. E isto basta para tornar falsa a generalização. Assim sustentam os melhores lógicos e filósofos. Apesar disso, ficamos agora sabendo que Lulinha Paz e Amor aceitou fazer o discurso de abertura da 1ª Conferência de GBLTS em Brasília. Que será que o fez mudar tão drasticamente sua Weltanschauung? Uma coisa é certa: não há mudanças sem explicação ou sem motivo e a partir do nada! Sim, pois se ele fosse um decidido antipatizante da causa, como o Olavo de Carvalho manifestamente o é, recusar-se-ia a abrir a referida Conferência. De onde se conclui que sua aceitação é uma eloqüente prova de que ele é um “simpatizante”. Não obstante, seria açodado e preconceituoso extrair daí a conclusão de que se trata de um enrustido, doidinho - porém carecendo de suficiente coragem - para soltar a franga como aquela personagem do Casseta e Planeta assíduo habitué de uma sauna gay. Podemos perfeitamente entender que um “simpatizante” dos GLBTS é um indivíduo que compreende o sentido da causa e suas justas reivindicações. Além disso, por uma questão de aceitação das diferenças e alteridades, este mesmo indivíduo dá todo seu apoio a esse particular movimento social. Se não o apoiasse, certamente se recusaria a fazer um discurso de abertura numa conferência nacional do referido movimento, a menos que se tratasse de um matreiro e despudorado demagogo capaz de engolir os mais repelentes sapos, se isto lhe rendesse alguns milhares de eleitores. E a julgar pela última Parada do Orgulho Gay no Rio de Janeiro, seriam, no mínimo, uns 300.000 eleitores, isto para não falar nas demais cidades deste país continental. [Em São Paulo, certamente deve ter sido um número muito maior]. Como sabemos, o Dia dos Gays é um evento capaz de agradar a qualquer prefeito - não por simpatia pela causa que ele eventualmente possa ter - mas sim pela movimentação da economia na sua cidade e pelo marketing altamente positivo da mesma como divulgação turística. Trata-se, na realidade, do evento festivo mais importante da Cidade Maravilhosa, depois do Carnaval e do Ano Novo em Copacabana e seu grande show pirotécnico. Não é nada disso que você está pensando... Composto das palavras gregas “pyros” (fogo) e “techne” (arte, técnica), pirotecnia é “a arte de produzir espetáculos com fogos de artifício” [no sentido figurado: “fazer muito estardalhaço, para produzir somente efeitos epidérmicos”]. Comentando o ocorrido, diz A Folha On Line em 5/6/2008: “Para evitar críticas de omissão no caso, Lula tem em suas mãos o projeto "Brasil sem homofobia". Também tem dados de que, em seu governo, o número de paradas do orgulho GLBT bateu recorde, com liberação de dinheiro e apoio público para eventos organizados por ONGs ligadas à causa gay.” “Estatais como Caixa Econômica Federal e Petrobras, por exemplo, são patrocinadores da Parada Gay de São Paulo. O Banco do Brasil já estendeu benefícios, como plano de saúde, a parceiros de funcionários homossexuais. São avanços pontuais dentro de uma estrutura pública ainda extremamente preconceituosa.” [obs. minha: Fosse pedido dinheiro público para uma PCDSDC (Parada Contra Desperdícios do Suado Dinheiro do Contribuinte) e não se receberia um só centavo sequer]... Como vemos, apesar das acerbas e virulentas críticas de espíritos conservadores e avessos às mudanças da pós-modernidade, duas prestigiosas instituições estatais estão patrocinando o homossexualismo, ativo, passivo e contemplativo. Só está faltando ser votado o projeto da sexóloga Marta Suplicy legalizando o casamento de gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, metrossexuais, metassexuais, parassexuais, usw. E pensar que, na Inglaterra vitoriana, sodomia (homossexualismo) era crime punível por lei, sim pois pecado sempre foi, mesmo antes de Sodoma e Gomorra serem destruídas pelo fogo que veio do céu enviado por Javé. Recentemente, no entanto, foi aprovado pela Casa dos Comuns um “certificado de parceria civil”, ou seja: tudo que Elton John ansiosamente aguardava para por um anel no dedo de sua amada noiva... Tenho razões para suspeitar que, até a primeira metade do século XX, a palavra “gay” queria dizer apenas “alegre” em inglês. Por exemplo: a gay party era uma expressão unívoca querendo dizer “uma festa alegre”, não uma expressão ambígua como é hoje, pois tem também a acepção de “uma festa de gays”. Por outro lado, a palavra comum para “viado” em inglês era (e ainda é) queer, palavra esta que já era ambígua nos áureos tempos de Oscar Wilde e sua namorada Bussie (assim chamava ele o primogênito de Lorde Douglas que o processou por práticas sodomitas com seu filho, apesar da livre e espontânea vontade deste mesmo). Queer queria dizer também “estranho”, “esquisito” [exquisite é um falso cognato, pois quer dizer em inglês “refinado”, “exótico”. O mesmo em espanhol]. Ouvi dizer que na década de 60 ou 70, numa das primeiras paradas gays na California, alguns manifestantes levavam uma faixa dizendo: we are not queers, we are gays. [Nós não somos viados (esquisitos), somos alegres]. Bem se eles queriam chamar a coisa de “alegre”, tudo bem. Permita-me apenas ter um jeito diferente de sentir alegria. Afinal de contas, não devemos respeitar as diferenças? Sinceramente sobre essa questão eu penso o mesmo que outro lorde inglês... “Majestade, lamento profundamente ter que dizer isto a Vossa Alteza, mas vou embora da Inglaterra” – disse com voz embargada Lord Southnorthumberland. “Mas, lorde, o senhor pertence a uma das melhores famílias da aristocracia. Seu pai foi um destacado membro da Casa dos Lordes, seu tio, um famoso jogador de cricket, seu primo o maior caçador de borboletas deste Reino Unido... Que motivos o levaram a tomar tão drástica e inesperada decisão?” “Majestade, já possuo 96 anos e tenho assistido a uma liberalização crescente e irreversível de determinados costumes neste reino. Lembro-me muito bem do tempo da rainha, vossa tia-avó, quando sodomia era crime e os sodomitas perseguidos a pauladas nos becos de Londres. Lembro-me muito bem do tempo do rei, vosso pai - que Deus o tenha em sua santa paz - quando a sodomia passou a ser permitida em todo o Reino Unido. Vejo que agora, em vosso reinado, os sodomitas passaram a ser até admirados. Diante disto, temo que amanhã tal coisa passe a ser compulsória e eu já estou velho demais para novas experiências ...”. Apêndice I: Esta é muito fácil de saber Lulla declarou recentemente: “Na verdade, eu não sei quando sou presidente e quando sou candidato”. Ora bolas, é fácil saber: quando está dizendo abobrinhas é presidente, quando está prometendo abobrinhas é candidato. Quando está fazendo algo é candidato, quando não está fazendo chongas é presidente.Q uando está em campanha eleitoral todos os dias da semana é candidato, quando está batendo uma bolinha com a camisa do Curíntia no domingo é presidente. Nota do Editor: Mario Guerreiro (xerxes39@gmail.com) é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
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