Falo hoje da minha história, que é um tanto triste. Hoje só me resta viver as decepções dos sonhos idos. Legaram-nos bizarra realidade. Sobraram, aí, praqueles da minha geração, as conseqüências da vitória e glória do Iluminismo. Do que beberei eu se nem a propaganda comunista me ilude?! Não tenho eu a convicção soviética, nem nada da estátua de Lênin me restou. Vivo, às duras penas, do ceticismo atual. Creio em Deus e em Jesus, porque no homem já não me basta crer. O tempo nos presenteou com as desgraças dos sonhos realizados de outrora. Os sonhos, os sonhos todos são vãos. Pior, o meu tempo é pior: é o amanhã derrotado, é sonhar com o passado, pois o futuro... Deus que me livre! Resta a ineficiência da paz verde, a inexistência de uma guerra em que valha a pena morrer. Sumiu, o sublime sumiu. Resta-me estar de pé e construir para o nada. Carregamos, geração da virada do milênio, o peso de saber o terror das descobertas. Experimentamos, hoje e perpetuamente, o sabor das catástrofes dos sonhos. Por isso não votamos. Por isso, nada compensa nos agitarmos e esta é a resposta aos velhos que nos perguntam sobre a violência, as drogas e a nossa música. Gastamos energia, criatividade e potencial em ações sem causa e nem sentido. Sabemos porque vivemos, nas conseqüências de sonhos sonhados e realizados. O abutre robótico devora meu último pedaço orgânico. O gosto metálico do cigarro persiste em minha boca. Recomenda-me me alimentar de industrializados, a fim de agradar meu paladar esquizofrênico. O orvalho da manhã me resfria. O sol me queima. A lua, daqui, não vejo. E o velho é sarcástico ao me perguntar dos meus desinteresses pelas coisas. Construo, repetidamente, obras vãs e passageiras, para um nada, que nada acrescenta, como a poeira que o espaço engole. Como o canto do bêbado. Como a poesia não lida. Avisem que o sonho hippie acabou e que minha geração não se amedronta de viver sem o amanhã. Caminhamos, firmes, para o abismo da humanidade, no intuito de sustentar as perspectivas falidas e as revoluções apocalípticas dos medrosos e inconseqüentes sonhadores de ontem. Iremos, convictos, à cruz, como foi o menino cochichar ao ouvido daquele que tudo viu, para que se confirme em alguma Escritura ainda não diluída que esse tempo que me impuseram é de todos o mais cinza, o mais ímpio. Carregamos sobre nossos ombros todo o erro das utopias irrealizadas, sem apresentar contraproposta. Dançamos tristes, livres e calados. Nota do Editor: Samuel C. da Costa é jornalista e poeta em Itajaí (SC).
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