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Opinião
22/06/2008 - 06h09
O caminho turvo possível
Dartagnan da Silva Zanela
 

"A política baseia-se na indiferença da maioria dos interessados, sem a qual não há política possível". (Paul Valéry)

O fenômeno totalitário, ao contrário do que muitos pensam, não é algo distante de nossa realidade vivida de maneira ordinária. O totalitarismo, nos seus mais variados tons ideológicos, tem as suas raízes muito bem calcadas justamente neste âmbito e, por essa mesma razão, a sua implantação acaba passando desapercebida aos nossos olhos. Quando nos damos conta, já nos encontramos imersos em meio a este cipoal infernal.

Por isso mesmo, a pergunta que, pelo menos em meu íntimo, não quer calar de modo algum é justamente aquela que clama por uma resposta sobre esse terrível destino que assolou a humanidade pelo correr da centúria passada e que continua a assombrar-nos no início do terceiro milênio. Ora, como é possível que as pessoas de uma determinada sociedade se entreguem “docilmente” ao domínio dos tentáculos leviatânicos de um Estado Totalitário?

A resposta para tal inquietação não é de modo algum simples, visto a complexidade do fenômeno. Todavia, podemos, modestamente, traçar algumas linhas sobre os fatores que levam uma sociedade democrática a permitir que um Estado Democrático de Direito se transmute em Estado Totalitário.

O ponto basilar para que tal situação se desenhe seria a geração de um grande clima de insegurança, onde o indivíduo se sinta literalmente desemparado, desprotegido e fragilizado. Obviamente, meu caro Watson, que tal clima de insegurança não se constrói da noite para o dia, mas sim, gradativamente, sem que percebamos o começo da cena que vai-se armando e muito menos o fim dramático que nos aguarda, pois, se assim o fosse, ao menos teríamos uma visão parcial do problema gerado e, com relativa tranqüilidade, poderíamos evitar o pior.

Este estar “perto do coração selvagem” é uma condição sine qua non para que se possa implantar este Estado demoníaco, visto que, os indivíduos sentindo-se desprotegidos e fragilizados irão procurar a salva-guarda de um “bem-feitor” para protegê-los do clima de anomia que se faz reinante na sociedade.

Mais uma vez, lembramos o óbvio ululante de que tal processo não ocorre de maneira brusca, mas sim, gradual. E mais! O agente que se apresenta como o “benfeitor dos benfeitores” é justamente aquele que pacientemente estimulou e fomentou toda a esbórnia que ameça a tranqüilidade dos pacatos cidadãos.

Com conhecimento de causa, Andrei Pleshu, Ministro das Relações Exteriores da Romênia (Diretor do New Europe College de Bucareste), lembra-nos também que: “Durante anos, a retórica do estado totalitário tentou compensar a ausência de soluções imediatas com sua superabundância de um futuro ’dourado’, garantido ideologicamente mas, de fato, indefinido. Diziam-nos que o hoje era difícil, mas que o amanhã seria maravilhoso, que a glória da atual geração consistia em seu desejo de sacrificar-se pelas gerações futuras”.

De mais a mais, se você estudar, pacientemente, todos os regimes totalitários que aterrorizaram boa parte da humanidade no correr do século XX, perceberá que todos eles procederam desta forma. Apenas a título de ilustração, sugerimos que o leitor deite as suas vistas na história da ascensão de Adolf Hitler ao poder e perceberá que este se assenhorou do poder na Alemanha de maneira gradativa e não de modo repentino e que, todo o clima de insegurança fora gerado por ele e seus partidários. Outro exemplo que julgamos ser de grande relevância é o da nossa vizinha Venezuela.

Aliás, para que recorrermos a exemplos que habitam o tubo de ensaio da história universal se nós podemos perfeitamente visualizar isso em nosso país, não é mesmo? É claro que não perceberemos nada disso se apenas olharmos para as manchetes imediatas, entretanto, se fizermos um estudo paciente sobre a história recente de nosso país perceberemos que esse processo mesmo sendo, por sua natureza, gradual, está caminhando a passos acelerados nestas terras cabralinas.

Não estamos aqui criando nenhum clima de terror. Não mesmo. O que estamos fazendo, de maneira pacóvia, é chamar a atenção para as inúmeras invasões, para a criminalidade organizada, para a bandalheira que infesta o Estadossauro que se agiganta dia após dia, enfim, para a semelhança assustadora destes fatos para com o caminho percorrido em outras paragens, guiados por políticos que tinham e tem gurus intelectuais e ideológicos similares (para não dizer que são os mesmos). Caminhos esses que terminaram e possivelmente terminarão naquilo que o tribunal da história ensina para quem desejar realmente aprender esta lição escrita com lágrimas e sangue.

Aliás, uma sociedade que não quer enfrentar a realidade dos fatos, está simplesmente apresentando sinais desta doença descrita sucintamente nestas mal fadas, mas sinceras, linhas.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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