O aparecimento, na Alemanha, do pugilista cubano e campeão olímpico Erislandy Lara - que em 2007, fugiu da delegação de Cuba nos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro com seu colega Guillermo Rigondeaux, com o objetivo de serem aceitos como refugiados políticos - desmente a convicta informação do ministro da Justiça, Tarso Genro, de que ambos voltaram do Brasil à ilha por livre e espontânea vontade. Presos logo após a fuga, no litoral fluminense, em tempo recorde, ambos levados para Cuba, num avião do solidário governo da Venezuela. Em março, Erislandy fugiu de Cuba, a bordo de uma pequena embarcação, que em 12 horas o colocou no México. Ali recebeu visto alemão e passagens com que viajou a Hamburgo, onde hoje treina e reinicia carreira. Disse que o propósito dele e de Guillermo, quando fugiram da delegação no Brasil, já era ir, como perseguidos políticos, para a Alemanha. E que, depois de presos no Brasil, quando retornaram a Cuba, foram excluídos de todos os eventos esportivos, dos treinos e proibidos de arrumar emprego. Guillermo ainda se encontra nesta situação. Se confirmado esse procedimento do governo brasileiro – que seria uma “gentileza” do presidente Lula a seu amigo Fidel Castro, ajudada por Hugo Chávez - o Brasil desrespeitou frontalmente a Convenção Americana sobre Direitos humanos (Pacto de San José Costa Rica), firmada em 1969 e da qual é signatário, que em seu artigo 1º estabelece liberdade e amparo a todos os perseguidos. Não foi isso que ocorreu aos cubanos. Sem a possibilidade de qualquer apelo ou contato, ambos foram colocados dentro do aviãozinho e mandados de volta a Cuba, onde qualquer um sabia antecipadamente o que lhes aconteceria. Tanto que o próprio governo cubano vetou totalmente a ida àquele país de parlamentares que pretendiam entrevistar os deportados. Apesar de momentos sociais difíceis, o Brasil se "vangloria" do pseudo-respeito que dedica aos direitos humanos. Muitos dos atuais detentores do poder são testemunhas do que ocorre quando não há o pleno acatamento ao direito de cada indivíduo. Mas, mesmo assim, ainda somos obrigados a conviver com o desconforto de fatos inacreditáveis como os relatados sobre os pugilistas cubanos. Não dá para calar diante de tanta irresponsabilidade e desumanidade daqueles que, até por experiência própria, deveriam ser grandes cultores dos direitos humanos. Não podem praticá-los apenas da boca para fora ou quando isso lhes convém politicamente. Espera-se que as autoridades, inclusive a diplomacia brasileira, esclareçam da forma mais clara e transparente esses acontecimentos e puna exemplarmente aqueles que tenham agido ao arrepio das leis e acordos internacionais, levando-os a responder as violações perante o Ministério Público. Essa mancha não fica bem a ninguém. Muito menos a um Estado que pretende cultivar a imagem de legalista e cultor do respeito ao ser humano, próprios dos povos e nações soberanos e democráticos... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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