Ao longo de várias jornadas, andanças e mais andanças pela cidade de São Paulo, cada dia que passo vejo e sinto sensações diferentes, tristes. Ontem estava na fila do ônibus no caminho para a faculdade e um menininho de aproximadamente 3 anos se aproxima e diz: "Tia compra um doce?". Respondi: "Obrigada meu anjo". Depois daquele episódio, parei para pensar e à medida em que a fila andava, eu ouvia murmurinhos de outras passageiras: "Mas é um absurdo, a mãe dele é muito cara-de-pau". Outra falava: "Já não é a primeira vez que ela faz isso". Uma criança tão pequena, não aparentava sinais de maus-tratos, apenas era obrigada a trabalhar como um escravo. Diante disso, sinto-me incomodada. Tantos são os meninos e crianças que vejo abandonados nas ruas, muitos descalços num dia frio, outros que só de olhar já perderam os sinais de inocência no corpo e nas expressões faciais. Tantas são as crianças que vejo fumando, largadas, pedindo, implorando, roubando, cheirando, fazendo coisas ruins e chego a pensar no motivo que os levará ali, a serem os meninos da rua. Tenho vontade de perguntar o passado de cada um deles, mas ao mesmo tempo, nunca se sabe se estão sozinhos e a reação que teriam diante uma pergunta dessas. A sensação que dá é de revolta, pois todos deveriam ter o direito de ter um lar, digno e cheio de amor. Enquanto isso não acontece, a gente vive e enlouquece com as crianças-adultas perdidas pela vida e pela solidão das ruas. Nota do Editor: Tatiany Cavalcante (jornaliteral.blogspot.com) é repórter.
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