No Brasil, a deficiência na concepção técnica e implementação dos projetos é o principal problema da sinalização vertical e horizontal das estradas, ruas e avenidas. Para o encontro de soluções eficazes, é necessário ampliar cada vez mais o diálogo entre os fornecedores de produtos, tintas e materiais destinados à sinalização e os compradores, em especial o governo e as empresas concessionárias de rodovias. Aperfeiçoar essa interação é fundamental, pois o adequado gerenciamento e a qualidade do sistema viário são de prioritário interesse público. O segmento de sinalização viária vertical e horizontal faz parte de um setor maior, altamente pulverizado, abrangente e repleto de deficiências: o de transportes. Dentre as falhas identificáveis no âmbito de alguns integrantes dessa área está a de classificar a sinalização viária como uma espécie de "maquiagem" das vias, destinada a encantar o motorista e os passageiros consumidores e não como item essencial à segurança dos usuários e à preservação da vida. Esta interpretação equivocada reflete-se diretamente na concepção dos projetos de sinalização e sua implementação. Deixa-se, assim, de se analisar questões técnicas essenciais, como a utilização do material correto para cada situação de uso de uma via, desde as características do tráfego quanto ao volume e tipos de veículos mais freqüentes, até clima, regime pluviométrico e peculiaridades geográficas e socioeconômicas. Tudo isto tem de ser devidamente processado numa equação em busca da melhor relação custo-benefício, sempre priorizando a necessária e inexorável segurança. Erros de avaliação, por exemplo, abrem espaço para outro problema muito grave, que é o vandalismo contra a sinalização vertical. As placas colocadas nas laterais das pistas são alvo freqüente para a prática de tiro-ao-alvo por pessoas irresponsáveis e alheias à cidadania. Além disso, numerosas placas de alumínio e aço são objeto de furtos constantes, pois estes materiais são revendidos facilmente no mercado negro. Ambos os casos, claro, são questões que ingressam no campo policial, mas os danos pelos tiros e furtos podem ser muito atenuados com a utilização de placas de fibra de vidro, passíveis de reparação com custo baixo e desinteressantes aos ladrões, pois não têm valor como sucata. Este é um exemplo de concepção incorreta dos projetos. Considerando ser impossível manter um policial a cada quilômetro de uma rodovia, não é mais racional desestimular a ganância dos bandidos, utilizando material disponível, resistente e com preço compatível? Será ético na gestão do erário público e eficaz para a lucratividade das concessionárias privadas ficar substituindo placas quase diariamente? Em síntese, é imensa a responsabilidade de quem atua em segmentos de alto impacto público, como o sistema viário deste país continente, que - errado ou certo - optou pelo transporte sobre pneus como principal meio de locomoção humana e movimentação de cargas. Nossa engenharia, unanimemente e justamente reconhecida como de primeiro mundo, não é suficiente para garantir altos níveis de segurança nas estradas, ruas e avenidas. A sinalização é essencial. Portanto, seus projetos e implementação têm de ser nivelados à qualidade das obras civis que compõem o sistema viário nacional. Para isto, há tecnologia, materiais e processos adequados e disponíveis. Assim, é preciso dialogar e, sem qualquer trocadilho, construir uma sólida ponte de entendimento entre os players do setor. Talvez seja esta a "obra" que falte para reduzir o número de acidentes de trânsito no País. Nota do Editor: Áurea Rangel é química, mestre em engenharia de materiais e diretora-executiva da Hot Line.
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