Ranufo sabia que havia errado. Ele não queria ter traído Joana, mas agora a bobagem estava feita. Milena já estava grávida de três meses. O noivado com Joana na iminência do fim. Era só uma questão de tempo. Milena, muito escandalosa, já havia contado para todo o bairro e para os bairros vizinhos que estava grávida e que Ranufo era o pai do bebê. Se arrependimento matasse, Ranufo já estaria morto. Ele não se conformava de não ter usado preservativo. Ele não entendia por que havia ido para a cama com uma garota que não era sua noiva e nem por que, na burrice de ter ido, não havia se prevenido para que uma gravidez indesejada não aparecesse. Joana iria saber e choraria compulsivamente. Ela que sempre foi uma mulher incrível para Ranufo. Ouviu cantadas de todos os homens do bairro, de todos os colegas da faculdade e do trabalho, durante todos os cinco anos que namoravam, mas nunca, em hipótese alguma, pensou em traí-lo. Joana amava Ranufo e sempre acreditou em seu amor também. Milena sempre foi da pá virada mesmo. Ela já havia tentado ficar grávida de uns quatro ou cinco caras do bairro, mas todos sabiam de sua fama de biscate e ninguém seria bobo de cair nas armadilhas daquela moça. Ninguém não. Havia o bobo do Ranufo, pensava ele próprio tentando entender aquela situação – aquele pesadelo em sua vida. Mas nem tudo estava perdido. Para tudo se dava um jeito, menos para a morte, pensava Ranufo. Ele amava Joana e não iria perdê-la de maneira alguma. E quem poderia garantir que o filho na barriga de Milena era realmente dele? Afinal, a menina dormia com todos os homens do bairro. Ranufo já sabia o que precisava fazer. Ele iria pedir um exame de DNA. Estava aí a solução. Ele seria inocentado e casaria com Joana. Mas Joana já sabia de tudo e estava furiosa. Uma vizinha veio contar para Ranufo que sua noiva já era sua ex-noiva. Agora a casa havia caído de vez sobre a cabeça de Ranufo. Joana, além de furiosa, estava inconsolável. Milena gargalhava debochadamente da cara de Ranufo. A vizinha também. O bairro todo. Até o cãozinho de estimação de Ranufo. Peraí, pensou Ranufo, cachorro não sabe dar risada. Tinha algo errado naquela história toda. Então, Ranufo acordou assustado com um barulho de despertador. Está todo suado. Ele estava sonhando. Era um pesadelo. “Que coisa horrível”, pensou Ranufo. Agradeceu a Deus por tudo não ser verdade e, ao mesmo tempo, estranhou o teto daquela casa, a mobília, o cheiro de perfume barato – algo ainda estava errado naquela história. Totalmente pelado sobre a cama, Ranufo olhou para o seu lado esquerdo e viu Milena, totalmente pelada, dormindo ao seu lado. O pesadelo iria começar de novo, mas agora ele era real. Quem lhe mandou ser tão bobo, Ranufo?! Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.
|