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Opinião
05/07/2008 - 12h06
A responsabilidade da liderança
José Nivaldo Cordeiro - Parlata
 

A leitura da obra de Ortega y Gasset nos leva à irremediável conclusão de que a crise da modernidade é uma crise moral, que deriva da quebra da hierarquia natural entre as minorias que ele chamava de egrégias e as massas. Essas minorias sempre são seletas precisamente porque deram de si mais do que os outros, os homens-massa: trabalharam mais, estudaram mais, disciplinaram-se mais, tiveram mais coragem física e espiritual. Isso é que fez delas, sempre, a minoria governante. Ser egrégio é uma conquista pessoal que não pode ser dada em herança. No campo de batalha, assim como nos gabinetes de estudo, nos ambientes de trabalho e nos retiros espirituais é que foram e são forjadas essas minorias compostas de notáveis.

Nos momentos de crise e de reconstrução as massas, desamparadas e feridas de morte pela própria estupidez, nem discutiam de quem deveria ser o comando da sociedade. Mas quando do apogeu civilizacional – e foi assim em Roma no fim do Império, como penso que estamos agora à escala mundial – as massas entenderam de ser governo e de colocar sob sua lógica tacanha os negócios de Estado. Foi o caminho da perdição. Da mesma forma, Ortega enxergou isso na Espanha, a quem alcunhou de “invertebrada” por não mais dispor dessas minorias seletas, e viu isso também em toda a Europa no período que precedeu Hitler, a Guerra Civil Espanhola e s Segunda Guerra Mundial. Foi como um profeta! O domínio das massas é o domínio do ódio e dos vícios mais abomináveis e, claro, da violência da ação direta.

Não faz muito tempo que tudo isso se passou, se enxergarmos o arco da História. Mas tudo se repete: de novo as massas estão a rebelar-se, querem ser governo, querem mandar. A América do Sul tem sido um laboratório deslumbrante e tenebroso para o observador desse fenômeno sociológico. Quem será Lula senão o homem-massa no poder, com o mandato expedito de atender aos apetites da turba? Para dar-lhe pão e circo, como em Roma em agonia? E Evo Morales? E Hugo Chávez? E o casal que governa a Argentina? E tutti quanti?

A massa – o homem-massa – é estúpida e cega, cheia de apetites insaciáveis e completamente desconectada do princípio de realidade. É um ogro que não hesita em devorar-se a si mesmo. Rebela-se por primeiro contra a lei da escassez; depois contra as normas de civilização, o tudo pode; por fim, contra a hierarquia natural e acaba por fazer de seus próprios pares os governantes, seja pelo voto, seja pelo golpe de Estado, como na Rússia revolucionária, em Cuba, na China e em toda parte.

A massa entende que civilização é como um fruto da natureza, pode colhê-lo sem precisar extenuar-se como o fizeram os que a construíram. Não querem mais trabalho e nem disciplina e nem voz de comando. Não aceitam mais liderança, movem-se qual vermes na carniça do que sobrou da civilização, até que a carcaça desapareça e os gordos devoradores de ontem feneçam de inanição amanhã por não saber mais os meios de reconstruir o que foi perdido. O Senhorito Satisfeito, aquele sujeito asqueroso que pensa que pode tudo. E, mais ainda, pode comportar-se como um garoto mimado, que pede qualquer coisa e espera que tudo lhe seja dado de graça, sem lhe custar qualquer esforço.

O interessante é que esse processo social de degeneração tem dois pólos: a própria expansão das massas e o encolhimento da minoria seleta, que em algum momento começa a perder terreno. Os homens notáveis deixam de sê-lo. Pouco a pouco ou acovardam-se diante do alarido da multidão ou eles próprios tornam-se multidão. Esse acovardamento é o ferir de morte a civilização. Vemos hoje por toda parte o tal politicamente correto. Não tenha dúvida, meu caro leitor: onde você perceber que o politicamente correto prevaleceu ali tem um pedaço necrosado do tecido social. E se as leis todas já foram tomadas por essa lógica mesquinha, então a barbárie está instalada.

Um típico tornar-se multidão se dá com os especialistas, os cientistas notáveis, os que têm grande conhecimento em um campo limitado. Um exemplo que recém citei foi o do médico Adib Jatene que, de cardiologista insuperável, quis virar economista e tributarista. Legou-nos a horrenda CPMF, da qual até hoje ainda faz dela propaganda, numa manifestação obstinada de cegueira. Quando fala desse tema percebe-se que não mais está ali o notável cirurgião, mas o funcionário público que foi durante toda vida, com uma agigantada psicologia de barnabé. O exemplar acabado do Senhorito Satisfeito.

Para fazer frente à maré montante das massas é preciso erguer essa muralha composta pelos seletos. E aqui não vai nenhuma estratificação por classes: há homens seletos em todas as classes, homens que sabem o valor da herança da civilização e a defendem com unhas e dentes. Mesmo os simples sabem que a tradição judaico-cristã é o que há de mais valioso e convém protegê-la, por ser o único dique contra a barbárie. Mesmo eles, os simples, sabem que uma boa educação – não essa educação para a militância que foi inventada pelo homem-massa – é essencial para se construir uma sociedade hígida, um tipo de ser que pode receber adequadamente a qualificação de pessoa, não um mero indivíduo, um tijolo da multidão.

A grande responsabilidade está com essa elite egrégia, que precisa ser multiplicada em número e se organizar para enquadrar as massas em rebelião. Isso pode ser feito em toda parte, mas precisa começar na família e no ambiente de trabalho. Santificar a vida cotidiana será talvez a fonte mais elementar de energia e o caminho mais curto para desbaratar as massas desembestadas. Santificá-la é vivê-la conforme a tradição, à vida cotidiana. Essa simples mudança atitudinal poria os homens-massa no seu lugar. Esse gesto mínimo, todavia, é o mais difícil.

É preciso que cada um, de posse de consciência e razão, repita a pergunta repreensiva e admoestadora e categórica do rei de Espanha, Juan Carlos, ao indigente Hugo Chávez, mudo diante da autoridade do nobre homem: “¿Porque no te callas?” É isso que devemos perguntar a todos os inimigos da civilização. Uma pergunta desta é que faz de um homem um líder, um ser egrégio.


Nota do Editor: José Nivaldo Cordeiro (www.nivaldocordeiro.net) é executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

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