Me passa seu e-mail? Você tem orkut? Ah, me adiciona no msn? Hoje, existe alguém que não tenha pelo menos uma dessas ferramentas? É estranho, não conheço ninguém que não tenha e-mail, ou msn. É como se tivéssemos uma segunda vida, a vida on-line. Uma vida em que o contato pelo toque não é mais necessário, o toque aqui é no teclado.

Em meados da década de 80, quando a internet começou a ganhar força, o percursor do jornalismo de gonzo se arriscou a dar sua opinião. Segundo o escritor e jornalista Hunter S. Thompson, "inventaram a ferramenta perfeita para o Novo Idiota. Agora eles podem florescer, numa verdadeira terra de burrice e ganância. Podem infestar o planeta com tudo o que há de babaca e nojento que você puder imaginar, e todos eles vão parecer gente sensata. Agora, qualquer bundão banal, mentiroso, pode virar presidente dos Estados Unidos e ficar numa boa. Tudo quanto é desmiolado cabeça oca vai poder derramar os seus pensamentos podres nesse novo mecanismo, entortá-lo um grau fora do prumo e depois reenviar como uma forma de sabedoria. Você acha que a gente já chegou à Terra dos Mortos-Vivos? Não, Ralph. Estamos só começando!", disse ele ao seu amigo Ralph Steadman (publicado na revista Piauí ano 2, nº 22).

O pior é pensar que Thompson estava certo. A internet multiplica uma pluralidade de informações de tal maneira, que se tornou hoje incontrolável. Claro, sem hipocrisia, é uma ótima ferramenta aos jornalistas em busca de informações, mais dados e tem seu lado positivo também, você pode se informar, ler jornais, revistas, ver fotos. Mas quando é usada para outros fins, pode ser, sim, muito perigosa.

É uma rotina viciosa, você vai trabalhar, chega, olha seu e-mail, responde alguns, apaga os outros. Quem tem orkut então, é uma doença. Tudo fica para trás quando se acessa o terrível domínio que começa com www. As pessoas ficam tão fascinadas com essas novas ferramentas de interatividade que se esquecem da relação "pessoal", ou melhor, da relação "ao vivo". Neste contexto, o telefone já não é mais tão usado, o jornal impresso perde seu espaço para a web, vive-se uma crise devido ao mundo virtual.

Pessoas se rendem a relacionamentos amorosos por meio desses sites, conhecem pessoas, trocam mensagens, têm a possibilidade de falar ’ao vivo’ – ver a pessoa por meio de uma webcam. Também há o lado negro, como vários casos de pedofilia, prostituição e outros crimes inclassificáveis. O mundo mudou, não há como omitir isso.

Quando os computadores começaram a ser fabricados eles tinham apenas uma missão: dar uma vida melhor aos trabalhadores. Os famosos ’microsofts’ surgiram desta forma, a idéia era fazer com que os funcionários produzissem mais em menos tempo. Hoje enxerga-se uma imensa farsa, foi uma propaganda enganosa que tornou a população ’escrava da máquina’.

Sábias palavras de Thompson. Me arriscaria a dizer que chegamos na ’Terra dos Mortos-Vivos’, pois na internet até morto tem vida.

Nota do Editor: Tatiany Cavalcante (jornaliteral.blogspot.com) é repórter.