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Opinião
16/07/2008 - 13h19
O novo ovo de Colombo
Paulo Nathanael Pereira de Souza
 

Vez por outra, a mídia falada, escrita e televisionada começa a dar destaque ao óbvio ululante: coisas que já se sabem, mas que, por conveniência ou qualquer outra razão pragmática, não se comentam, nem se divulgam. É o caso, agora, dos resultados decrescentes da aprendizagem de alunos do ensino fundamental em matemática e português. Conseqüência inevitável do estado falimentar em que se encontra a educação básica, sem que os governantes se mobilizem adequadamente para organizar uma cruzada capaz de mudar esse estado de coisas. Há algumas décadas, quando a situação não era tão crítica e a escola ainda conseguia ensinar algo a seus alunos, eu, nas palestras que fazia em faculdades, já alertava para as perigosas tendências negativas, que se faziam sentir no dia-a-dia do processo ensino-aprendizagem. Tanto bastava para que algum militante político de oposição ali presente me interpelasse na hora dos debates, sempre com o mesmo questionamento: “Interessa à elite não educar o povo. Falta-lhe vontade política para tanto”. E agora que o populismo é governo, quem passa a perguntar sou eu: “O que impede os governos não elitistas de educar o povo, transformando o país numa gigantesca escola, com salas de aula nas sacristias das igrejas, nas dependências de clubes, em casas de família e até debaixo de árvores?” É o ovo de Colombo, pois não, mas que não desencanta nem a pau.

Como conseqüência, as avaliações de aprendizagem nas redes escolares dos ensinos fundamental e médio continuam a indicar uma inaceitável taxa de desaprendizagem que envergonha o Brasil, dado o nível catastrófico do conhecimento, no qual não há ciência, nem arte e, muito menos, capacidade crítica para entender minimamente o que se passa a seu redor. Ainda recentemente, foram divulgados os resultados obtidos pelo Ministério da Educação (MEC) na pesquisa nacional com alunos das escolas municipais, e viu-se que, dos 5.564 municípios, apenas 37 obtiveram resultados considerados bons numa escala de zero a dez. E assim mesmo, o escore não chegou a 5, tendo estancado em 3,8. Parece mentira, mas fez-se um oba-oba nacional em torno dessas 37 exceções, com seus resultados ancorados no primeiro terço do que seria desejável (3,8), como se pudessem eles ser transformados em metas a serem alcançadas e parâmetros a serem adotados pelos outros milhares de municípios (na sua grande maioria abaixo desse índice), que se espalham por esses Brasis afora. Na verdade, o caso está mais para tristeza do que para alegria e comemoração!

Um ponto, no entanto, considero positivo, tanto nessa pesquisa, como em suas conclusões: a correção de rumos, que pode levar escolas a caminharem do fracasso para algum nível de sucesso, não depende nem de reformas sofisticadas da educação (uma nova LDB, por exemplo), nem de equipamentos de luxo para uso de alunos e professores, ou, tampouco, dessas pedagogias trazidas de fora, como se fossem a última palavra de salvação para a crise. Dependem muito mais, como estou cansado de dizer e escrever, e como afirma a parceria entre MEC e Unesco, de pequenas medidas apropriadas como as que se seguem: ajustamento da escola e seu funcionamento à cultura local; fixação de focos para a aprendizagem; planejamento e avaliação praticados o tempo todo; reciclagem e capacitação contínuas dos professores, pagando-os decentemente pelo seu trabalho; colocação do aluno como o centro da aprendizagem, dando-lhe suporte permanente na superação das dificuldades; enriquecimento do currículo com atividades extra-escolares complementares; e uma integração entre famílias, alunos e educadores e das escolas locais entre si (as chamadas redes de ensino).

Como acreditam os pesquisadores que foram investigar as causas do menor insucesso de aprendizagem detectados nos 37 municípios elogiados pela mídia, pelo MEC e até pela Unesco, se essa experiência das redes – que é de baixo custo e se sustenta principalmente de valores morais para chegar a suas metas – puder ser multiplicada por todo o País, grande parte do insucesso da escolaridades de nível fundamental poderá ser superado, com reais e preciosos ganhos de saber para os alunos e reflexos positivos para os demais graus da escolaridade formal.


Nota do Editor: Paulo Nathanael Pereira de Souza é doutor em educação e presidente do Conselho de Administração do Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE.

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