E foi bem na hora em que aquele pesado caminhão deu ruidosa freada, para não me atropelar, que eu havia abaixado para juntar um dinheiro perdido, por não sei quem. O valor não era alto, somente dez centavos, mas o exato que me faltava para comprar quatro pães, posto que cada pão, sendo vendido a vinte e cinco, teria que pagar um real e noventa centavos. Trocado, eu tinha. Minha família é composta de quatro pessoas: minha esposa come um pão, a filha de onze anos, come outro todinho, a menorzinha, de sete, come meio e eu devoro um e meio. Fui xingado de “velho gay” pelo simpático motorista do caminhão, um homem de dois metros de altura e um de largura, daqueles que nenhum cidadão normal ousa ofender cara a cara. Dei-lhe uma trégua e primeiro reclamei que não mais me chamasse de velho. Embora com 60 anos, fico ofendido de ser tratado assim. Quando o clima estava mais sereno, apontei-lhe a placa que indicava que ele estava trafegando na contramão. Seria um grande azar para ele me atropelar. E mais azar ainda para mim, que não provaria o pão quentinho e fresco do padeiro preferido do meu bairro. Sempre ensino as minhas filhas a serem educadas. Quando elas vão à padaria perguntam, gentilmente, ao padeiro: “O pão está com a casca morena clara como eu, e fresco, como o senhor?”. Dinheiro é dinheiro. Cada moedinha vale alguma coisa. Por isto, fico espantado com o povo do meu país. É enganado pela propaganda e, com cara de felicidade, deixa seu troco na loja de um e noventa e ainda acredita que a mercadoria é importada. O que vem do Paraguai não é importado. É contrabandeado ou pirateado. Primeiro que o Paraguai já é quintal do Brasil... Segundo, os contrabandistas ou “agentes” de importação, têm um sólido argumento: “não se faz contrabando ou importação do quintal para dentro de casa. Também não é pirateado, já que ninguém fabrica nada tão ruim e descartável como por lá”. Pirateado deve ter a mesma qualidade do original (quer dizer, um pouco menos), só que sem recolher os impostos. Perdão ao Paraguai. A China, também, é um país que só faz treco, e nem se dá ao luxo de mandar para Porto Stroessner, para que as bugigangas cheguem às lojas de ofertas. A pergunta é: “se a merdadoria (erro proposital) é anunciada a R$ 1,90, por que arredondamos para R$ 2,00? Gostamos de propaganda enganosa, ou somos um país de ricos?!” Dez centavos é a décima parte de um real. Não é para ser desperdiçado. Vi, certa ocasião, na televisão, a história de um menino que cata pedaços de fios de cobre e outros metais, vasculhando as portas de prédios em construção, embaixo de postes onde os eletricistas das concessionárias cortam pontas de emendas, e em eventuais olhadas pelo chão do seu circuito diário. A repórter indagou-lhe o valor da venda e a aplicação do dinheiro conseguido: “Compro o litro de leite da minha irmã”, disse, sorridente, o garoto. A resposta daquele menino faz cair por terra os argumentos de tantos que passaram por cima daquela moeda antes de mim e a olharam com desprezo, e indagaram para si mesmos: “abaixar por tão pouco?”. Há um ditado que diz: “quem despreza o fubá não faz jus ao milhão” (se o ditado não existia, passou a existir agora). Não é à toa que americano fica rico. Eu vi em Nova York um passageiro de táxi bronquear pelo troco de “ten cents” (dez centavos). Eu vi em um filme, mas vi! Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, DRT-398/BA, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi Bahia... É jornalista investigativo, escritor, poeta, e adepto do humor. Também conhecido como “Jornalista do Sertão”. E-mail: seupedro@micks.com.br.
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