Nos anos 80, era comum usar-se a expressão “pecado estrutural” para designar sistemas cujo funcionamento conduzia ao mal. Naqueles tempos em que verdades e consensos se enredavam nos torvelinhos ideológicos, a Teologia da Libertação (TL) doutrinava que o instrumento corretivo do pecado estrutural, instrumento tão sábio e perfeito que muitos o identificavam com o “Reino de Deus”, era o socialismo. O passar dos anos, no entanto, mostrou o contrário: caiu o muro de Berlim, escancarou-se a Muralha da China e até Cuba, suspeita-se, busca um jeito de mandar essas idéias ao devido lugar sem que a dinastia Castro e sua corte tenham que pagar maior vexame. O século passado evidenciou, largamente, que existem sistemas econômicos que enfrentam a riqueza gerando miséria e outros que enfrentam a miséria pela geração de riqueza. A economia de mercado, aliás, exibe méritos que a poderiam beatificar. Tem milagres comprovados e ampla produção de benefícios em favor daqueles excluídos a respeito dos quais a TL tanto falou e pelos quais, objetivamente, nada fez. É claro que na economia de mercado, como em quaisquer formas de relação humana, ocorrem perversões e delitos que atentam contra o bem comum e devem, à luz da prioridade da Política, ser objeto de correção. No entanto, sob liberdade econômica, em menos de duas décadas, centenas de milhões de pessoas, na Europa Oriental, bem como no Leste e Sul da Ásia, emergiram da linha da miséria. Os benefícios de medidas que assegurem estabilidade política, estimulem competitividade e atraiam investimentos não são apenas teóricos. Ao contrário, são constatados na prática dos povos, em pequenas nações como a Irlanda e em mega-problemas sociais e demográficos como a China e a Índia. O caso chinês salta aos olhos. A partir de 1949, por quase meio século, a China tornou-se uma das mecas do comunismo. E, não por acaso, um dos países mais miseráveis do mundo. Nos últimos dez anos, abandonando aquele sistema econômico, a percentagem da população que vive com menos de um dólar diário caiu de 61 para 17 por cento e trezentos milhões de pessoas saíram da linha da miséria! E note-se: sob repugnante totalitarismo político e com o mais desqualificado capitalismo do planeta. Enquanto isso, nós, os ibero-americanos, devido ao nosso absurdo modelo político, nosso populismo, nosso patrimonialismo e inigualável aptidão para sermos enganados pelos ouvidos, ainda estamos na periferia do jogo. A única exceção regional cabe ao Chile, que ocupa, entre os países do mundo, a 11ª posição no Índice de Liberdade Econômica e o 1º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano do subcontinente. Chego, enfim, ao ponto que pretendia. De fato, modelos e sistemas não são inocentes. Há “pecados” estruturais. Sistemas e modelos produzem conseqüências boas ou más, segundo a inteligência de suas concepções. Eis por que não me canso de apontar os defeitos dos modelos da América Ibérica. Eles são bem diferentes, aliás, daqueles que, adotados na península-mãe após sua redemocratização, rapidamente levaram Espanha e Portugal ao Primeiro Mundo. Assim como a economia socialista só ampliou a miséria que pretendia eliminar, assim também as teses e os modelos políticos em voga no Brasil e arredores jogam contra a prosperidade dos nossos povos, contra nossas possibilidades de vencer a pobreza e estimulam a corrupção. Idéias e sistemas melhores geram resultados superiores. Ah! Antes que me esqueça e ironias à parte: o Reino de Deus é outra coisa. Nota do Editor: Percival Puggina (www.puggina.org) é arquiteto e da Presidente Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública. Conferencista muito solicitado, profere dezenas de palestras por ano em todo o país sobre temas sociais, políticos e religiosos. Escreve semanalmente artigos de opinião para mais de uma centena de jornais do Rio Grande do Sul.
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