Eu, Duílio Megatto Remarque, deixo aqui, em poucas linhas, minhas últimas vontades. Serei breve. Não tenho muitos bens e nem paciência. Deixo minha casa, aqui da Vila Mariana, para minha filha, Ana Paula. O apartamento do Guarujá deixo para minha neta, Aline, e o sítio, em Campinas, deixo para minha outra neta, Amanda. A casa do Brooklyn, que está alugada, assim como meu carro, um corsa 2005, desejo que sejam vendidos e o dinheiro repartido entre minha filha e minhas netas. Minhas roupas peço que, por favor, sejam incineradas. Sei que não é justo diante do número de pessoas que não têm o que vestir nesse País, mas, infelizmente, não quero que minhas roupas respirem depois que eu não mais o faço. Já os meus livros, minha maior riqueza, desejo que sejam entregues, de forma beneficente, para alguma biblioteca de São Paulo. Desde que seja um lugar freqüentado por muitas pessoas e que, assim, esses livros sirvam de boas leituras para quem ainda valoriza boas histórias. Só mais uma coisa: com minha morte talvez algumas pessoas chorem e achem que farei falta. Fico feliz em saber disso, mas depois de 30 dias, no máximo, quero que todo mundo viva normalmente e lembre-se de mim com carinho e nada mais que isso. É como se eu saísse de férias por tempo indeterminado. Um dia eu voltarei. Não sei se esse dia será breve ou se demorará muito, mas na altura dos acontecimentos não creio que valha a pena pensar muito nisso. Acho que é só. Acredito que os testamentos das outras pessoas sejam mais longos que o meu. No entanto, eu não me sentiria bem em ficar escrevendo um monte de coisas sobre o que virá depois de mim. Acho que é planejar uma festa em que você não participará de nada. Fica sem graça escrever assim. Eu escrevi minha vida toda e acho que agora já estou cansado. Deixo aqui minhas vontades úteis, e o resto sei que meus parentes e amigos se encarregarão com maestria e carinho. Duílio Megatto Remarque São Paulo, 11 de julho de 2008 17h27 Obs: Duílio morreu dormindo, aos 77 anos, nove dias depois de fazer seu testamento. Os médicos diziam que ele estava com câncer. Ele não reclamava dor alguma e dizia apenas que já andava muito cansado. Escreveu onze livros, sendo 10 romances e 1 de poesias. Deixou em sua residência uma biblioteca com mais de 7 mil livros que ele cuidou com carinho até seu último dia de vida. Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.
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