A vida de um casal é uma constante reconstrução. Estamos sempre recolocando massa de rejunto e alisando antes que um tijolinho caia em nossa cabeça. Por isto inventaram certas datas especiais, como o Dia das Mães, para dar beijinhos, desejar felicidades e, claro, entregar presentes escolhidos, lembrando de esticar o encolhido orçamento. E não acreditem nessa história de que “o importante é lembrar”. As palavras de carinho são importantes, mas experimente levantar mais cedo, trazer os filhos até a cabeceira da cama e, em coro, acordarem a homenageada, entoando “parabéns pra você, nesta data querida...”. Pode acontecer da massa de rejunto não segurar o tijolo. Pior ainda se depois você volta a dormir, e não vestir o avental para cuidar dos afazeres domésticos, que os homens têm que aprender executar pelo menos uma vez ao ano. No Dia das Mães se presume que a tarefa de presentear é apenas dos filhos. Mas todas as festas domiciliares, com raras exceções, começam no bolso do papai. Sem falar que as mamães, também com raras exceções, ficarão dias contando e mostrando à vizinhança os “presentes dos meus filhos”. Claro que me aproveito da ocasião para, em certo momento, esquecermos da prole já existente e nos enclausuramos embaixo dos lençóis. O perigo serão mais filhos e mais dinheiro para presentes. Porém vale o risco. Afinal, filhos são presentes para o lar, e se não houvesse eles, não haveria mãe. E não haveria o Dia das Mães, e nós, maridos, faríamos economia. Mas, em compensação, não tocaríamos nas mãos delicadas das balconistas das joalherias, perfumarias ou floriculturas. E aqui desabafo. Ainda me lembro da ingratidão que guardo desde o ano passado, justamente no Dia das Mães. Um drama! Meu décimo-terceiro ainda não havia sido pago (ele só vem em dezembro), e faltavam muitos meses. Se eu comprasse uma jóia verdadeira, comprometeria o orçamento do mês e a colocaria em risco perante um assaltante. Se pelo menos eu morasse em São Paulo, escolheria um relógio de pulso, quase autêntico, em uma das galerias da Rua 25 de Março. Perfumes só no boti caro! As flores pelo preço da morte, porque em vida não dá para viver florido, ainda mais no Nordeste. As flores naturais de nosso cerrado, com a seca, ficaram todas defumadas. Flores defumadas, sequinhas? Optei, então, por um três e um. Quem não gosta de algo que lhe facilite a vida? Hoje tem até televisão que serve de computador, para que não sei, mas que tem, tem. Pois, a única pessoa que não gostou do três em um foi ela, a mãe dos meus filhos. E lembrar que o papel de presente foi mais caro do que o dito cujo. Passei em uma loja de R$ 1,99 e lá estava a oferta: “Três em um, em preço de promoção”. Era um lindo cabo, tendo nas extremidades uma vassoura, um escovão e um rodo. E a loja ainda mandou de brinde um espanador. Em uma reação inesperada, após desembrulhar aquele pacote comprido e colorido, ela passou a quebrar em minha cabeça o que eu lhe havia dado com carinho. No próximo dia especial resolvi dar como presente um almoço fora de casa. O difícil vai ser levar a mesa da copa para o quintal. Só espero que ela não tenha uma reação parecida com a do ano passado, e não me quebre na cabeça a meia-dúzia de pratos colorex que lhe dei no último Natal. Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, DRT-398/BA, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi Bahia... É jornalista investigativo, escritor, poeta, e adepto do humor. Também conhecido como “Jornalista do Sertão”. E-mail: seupedro@micks.com.br.
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