Professores, precisamos nos capacitar ou tornar-nos cada vez mais capazes???
Pergunta idiota a minha, pensariam alguns. Outros se tornariam reflexivos perante a mesma. Eu, como educadora, tenho estado muito preocupada. Aqui em Ubatuba estamos mais uma vez repensando a educação brasileira antes de recomeçarmos o segundo semestre do ano. Repensando os tristes índices nos IDEBs, Provinha Brasil ou dos exames da OAB. Tantos e tantos números não podem e não devem deixar-nos apáticos frente ao que nos é apresentado na mídia. Hoje o Brasil encontra-se entre os últimos colocados no “ranking” de qualidade educacional. É triste, e coloca questões sérias a serem discutidas. Questões que já citei em outros momentos mas que, devem ser repensadas e revistas sem “melindres” do “já vai jogar a culpa no professor?”. Sou educadora há longos anos somente em Ubatuba e, já no ano de 86, portanto há 22 anos atrás, estive no I Encontro Estadual de Educação Pré-Escolar na cidade de Marília. Neste encontro foi-nos entregue um texto de Neidson Rodrigues, cujo título é “Desafio aos Educadores” onde o mesmo tece considerações sobre a postura do profissional de educação dizendo “Temos criado, neste país, uma geração-tartaruga, uma geração medrosa, recolhida para dentro de si. E estamos todos impregnados por esse espírito de tartaruga. Não temos coragem para contestar nossos dirigentes, para nos opor às suas propostas e criar soluções alternativas. Agimos de maneira reativa, negativa, covarde.” Já no ano de l.995, em entrevista à revista Veja de 26 de Abril, às páginas 7 a 10, Ana Teberoski, autora do livro “Psicogênese da Língua Escrita”, em co-autoria com a psicopedagoga Emília Ferreiro, fez a seguinte consideração: “O modo de ler dos universitários reflete um estilo de vida. A leitura é variada, mas eles não se aprofundam em nada. Lêem como se assistissem à televisão com um controle remoto. Nunca param num canal. Fazem o que eu chamo de leitura em zapping.” Estou citando estes dois autores em diferentes décadas de minha profissão porque na XIV Semana da Educação realizada aqui em Ubatuba, nos dias 24, 25 e 28 de julho de 2008, a fala dos palestrantes, em sua grande maioria, versou sobre a má qualidade da educação que nossos educandos têm tido acesso. A Profª Mônica Ribeiro, com muita propriedade, deixou claro que se há alunos analfabetos freqüentando uma 5ª série, a instituição educacional deve e necessita ser repensada e que pais e sociedade têm parcela de culpa neste fracasso mas os maiores culpados somos nós: a instituição escolar. Vejamos: se educamos para o instinto da tartaruga na década de 80; se nossos jovens já faziam uma leitura sem se aprofundar em nada na década de 90 e, se já neste século, uma grande maioria de nossos educandos continua um analfabeto funcional, o que fizemos nós nestes anos todos? Só acertamos com uma minoria? Só ficamos num discurso defensivo? Fomos deixando que os baixos salários nos desestimulassem esquecendo-nos do juramento que fizemos ao nos tornar professores? O que fizemos nós? Agora, o que faremos nós? Temos que fazer com que nossos educandos e sociedade voltem a nos respeitar e a acreditar na instituição escolar novamente. Isso só será possível se cada um dos envolvidos assumir sua “meã culpa”. Se formos reflexivos o bastante para, primeiro nos cobrarmos como profissionais e depois exigir dos poderes públicos e da sociedade como um todo que façam a sua parte. Esta Semana da Educação foi bastante profícua. Os profissionais que ministraram as palestras e as oficinas são competentes. Não pediram avaliação do encontro; não perderam tempo pedindo que nos reuníssemos em grupo para isto ou aquilo. Deram seu recado e pronto. Os professores que lá estiveram, na sua grande maioria, ficaram satisfeitos com o nível do encontro. É disso que precisamos. De seriedade compromissada e, a partir daí, termos a certeza de que precisamos nos capacitar constantemente para que sejamos cada vez mais capazes de revertermos o quadro que se apresenta na educação brasileira atual. Lourdes Moreira Professora da Rede Municipal e Estadual de Ubatuba
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