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Crônicas
08/08/2008 - 11h05
Como escolher um drinque - Parte I
André Falavigna
 
O drinque certo para cada pessoa

Partamos para a prestação de serviços.

Resolvi inovar, mais uma vez. Inspirado nos nossos cronistas esportivos que, não satisfeitos em analisar e comentar partidas de futebol com o distanciamento sugerido pelo bom senso, sentem-se perfeitamente capazes de orientar os mais consagrados treinadores futebol da maneira mais incisiva e autoritária – sobretudo os cronistas que jamais exerceram qualquer função mais ou menos parecida com a de treinador de, por exemplo, futebol de botão, mesa Estrelão – resolvi sair dando palpites especializadíssimos sobre algum assunto de que goste, mas do qual não compreenda mais do que o óbvio. Falo daqueles comentaristas que agem como um hipotético, mas verossímil crítico de teatro que, com larga formação acadêmica, alguma tentativa (mesmo que falhada) dramatúrgica no currículo e sólida experiência na platéia pusesse-se a mais do que analisar montagens segundo a tradição da análise, e preferisse reclamar logo seus direitos de ingerência sobre o objeto de seu trabalho. Note-se apenas que, entre aqueles cronistas existentes e estes críticos fictícios há certa diferença fundamental, que reside no fato de que os primeiros, em regra, pecam pela ausência de qualquer formação larga, salvo as de ordem fisiológica, de qualquer coragem prática e de qualquer experiência sólida.

Pensei num negócio que gosto de fazer, mas acerca do qual sou ignorante. Drinques, por exemplo. Faço apenas, e muito mal, Cuba Libre, High Fi, Mojito e Bloody Marie. Em compensação, tomo-os que é uma beleza. Baseado no mesmo critério que leva nossos rapazes a falar do que gostam como se fossem capazes de fazer melhor do que vêem os mestres fazendo, decidi ensinar a quem quiser aprender comigo como se escolhe o drinque a ser tomado ou servido, a depender dos objetivos que se pretende alcançar.

Freqüentemente, vemos abordado o tema da escolha do drinque certo para cada estação ou para cada clima. Nessas horas, vemos porque é importante escolher o drinque associando-se tal opção a certos conhecimentos acerca da personalidade da pessoa a quem se oferece o dito cujo.

Isso tudo se baseia na hipótese de que o leitor, homem ou mulher, esteja numa posição ativa – ao menos na ocasião em que a preferencial for sua. É bastante normal que a mulher permita ao homem decidir o drinque por ela; o contrário também ocorre, mas é mais raro. Também é comum a mulher preparar um drinque para o homem que a visita em seus domínios, e isso sem lhe dar o direito de objetar à sua decisão. Além do mais, nunca é tarde para lembrar que tais situações se reproduzem entre casais homossexuais e que, portanto, os conselhos aqui contidos são válidos para todas as situações de cortejo entre terráqueos humanos – para todos verem como não tenho preconceitos de nenhuma ordem.

Um aparte: neste momento, vocês pensaram que eu faria alguma piada a respeito do São Paulo, não é? Só que acordei muito magnânimo e vou deixar para outra ocasião. Sigamos.

Organizei as dicas adotando a seguinte metodologia: são inúmeros os drinques conhecidos, mas há linhas mestras que podem ser representadas por certos modelos de grande fama. A alternativa por esses modelos oferecerá, aos leitores, a vantagem de poderem associar o que estamos dizendo aos sabores que eles já conhecem. Evidentemente, o trabalho de adaptação a cada situação particular ficará a cargo de cada pessoa. Mas isso não é complicado. Complicado é saber que:

1. Bloody Marie é um drinque para mulheres no mínimo maduras ou, no máximo, velhas. Se você tirar a vodka do Bloody Marie, ele continua muito útil como bebida. Suco de tomate é perfeito para curar ressacas. Meninas não sabem apreciar suco de tomate porque ainda não apanharam de um marido bêbado e nem se viciaram em jogo. Toda velha viciada em baralho se entope de Bloody Marie e começa a dar baixaria. Se você quiser tomar dinheiro de uma dessas múmias frustradas, ofereça-lhe Bloody Marie. Nunca se deverá oferece beber Bloody Marie a meninas virgens – isso pode resultar em danação eterna.

2. Dry Martini é coisa para homens e mulheres, desde que dominadores. Pessoas submissas se intimidam com gim, que é provavelmente a bebida mais horrorosa que já foi inventada. As pessoas são tão feias na Inglaterra porque lá todo mundo bebe gim e fede a gim. Outro problema com o Dry Martini é que todo mundo acha que sabe fazê-lo e todo mundo pensa que o seu jeito de fazê-lo é o certo, o que o torna o drinque mais bebido por filhas da puta do mundo todo. É por isso que a Inglaterra é um país de filhas da puta.

3. Mojitos são sensacionais para mulheres que estão muito propensas a dar com vigor e ternura, e poderão mesmo criar esse pendor nas que estiverem apenas ligeiramente a fim de dar uma chupadinha em alguém. São muito refrescantes e leves, o que leva a pessoa a perder a noção do quanto está bebendo. Se você entupir uma vagabunda qualquer com Mojitos, ela vai acabar cedendo. No século XVIII, freiras mexicanas pediam para ser estupradas quando bebiam Mojitos. Sim, homens podem se divertir com Mojitos, mas o que realmente os instigará à selvageria é um bem feito.

4. Manhattan, cujas características fortemente espirituosas poderão introduzir na mente masculina o impulso até mesmo ao estupro. Se o camarada bebe muito Manhattan ele acaba estuprando freiras mexicanas que, se não tiverem bebido Mojitos, sofrerão muito com isso. Manhattan pode ser tão alucinante que muito camarada descobre-se um sodomita dos mais ferozes após apenas duas doses.

5. Hi-Fi é drinque de gente depressiva e que deu errado na vida. Uma coisa permissiva que costuma acabar em gonorréia, funciona bem com quarentonas e mulheres traídas. Se você estiver atrás de apanhar doenças venéreas, saia com mulheres que pedem Hi-Fi.

6. Curaçao Blue, coisa de adolescentes que, um dia, acabarão no Hi-Fi. Bebida doce para pessoas enjoativas. As adolescentes que bebem muito Curaçao Blue acabam sendo traídas depois de casadas e, se não se viciam em baralho, terminam com gonorréia por conta do Hi-Fi. Isso acontece sempre que os maridos infiéis que essas putinhas arrumam não lhes cobrem de porrada. Se cobrissem, elas paravam no Bloody Marie. Bom para abater gente que não presta atenção onde pisa. Quebrou muito galho de marmanjo inescrupuloso na Vila Madalena, nos anos 90. Se você quiser passar candidíase para alguém, escolha Curaçao Blue.

7. Sex on the Beach, poderia facilmente ser chamado de Sex on the Bitch. Mulheres que bebem esse troço estão dando um recado claro: queremos anal. Uma mulher que bebe Sex on the Beach só pode ser acalmada submetendo-se a esse tipo de procedimento. Ah, sim, claro. Isso vale para homens também.

8. Gim Fizz, jamais. Gim Fizz, como já disse alguém, é a Alka-Seltzer do alcoólatra. Gim Fizz é uma bebida solitária, capaz de efeitos deletérios em casais normais. Só casais falidos e velhos bebem Gim Fizz juntos. Gente decrépita bebe Gim Fizz e finge para si mesmo que não é alcoólico. Na Inglaterra os nobres caídos bebem Gim Fizz como porcos. Por isso a Inglaterra é repleta de filhas da puta da pior espécie. Gim Fizz cai bem com cocaína.

9. Batidas em geral, em geral as evite. Raras batidas são passáveis e somente homens experientes identificam a tempo uma má batida. Mulheres realmente promíscuas pedem batidas. Leite condensado na bebida é uma idéia degenerada que ainda vai destruir a Civilização Ocidental. Em todo caso, se não houver outro meio, compreenda que mulheres que preferem batidas não prestam para casar e, normalmente, geram filhos retardados.

10. Drinques baseados em champanhe: o vinho da Borgonha leva um homem a pensar besteiras, o Bordeaux, a falar besteiras e o champanhe, a fazer besteiras. Drinques baseados em champanhe levam o sujeito a pensar que música eletrônica é coisa de homem. O Titanic afundou numa dessas. Misturar champanhe é um pecado, e todo pecado implica punição. A punição para quem se diverte misturando coisinhas ao champanhe é perder a convicção sexual e esfincteriana. Vejam o que aconteceu ao Tom Cruise. Muitos já serviram drinques baseados em champanhe pensando em enlaçar alguém e terminaram empalados por aborígines australianos. O bom é que nunca ninguém reclamou.

Qualquer dia desses, estenderei esta idéia. Por enquanto, acho que vocês já pegaram o espírito da coisa, ainda que faltem desenvolvimento e muitos detalhes. Por exemplo: que tipo de impressão você pretende causar com seu drinque? Como mudar de drinque conforme o tempo passa e você se torna velho? Enfim, qual o drinque que você deve escolher bem para bem escolher o drinque de sua vítima? Quem sabe, publico um manual a respeito. Aguardem lúcidos.

PS: Sim, as Olimpíadas estão chegando e há sempre alguém para me lembrar da crônica “Uma Lição de Democracia Racial”, que versava sobre o tema. Portanto, a título de comemoração, republiquei-a no meu blog.


Nota do Editor: André Falavigna é escritor, tendo publicado dezenas de contos e crônicas (sobretudo futebolísticas) na Web. Possui um blog pessoal, ofalavigna.blog.uol.com.br, no qual lança, periodicamente, capítulos de um romance. Colabora com diversas publicações eletrônicas.

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