Um dos principais marcadores da Doença de Alzheimer é o acúmulo no cérebro de uma substância protéica chamada beta-amilóide - também encontrada no cérebro de idosos saudáveis, porém em pequenas quantidades. Esse acúmulo excessivo de proteínas, que é geneticamente determinado, faz com que aos poucos o cérebro vá ficando ineficiente. Os medicamentos atualmente aprovados para o tratamento da doença apenas retardam levemente a progressão do declínio cognitivo, sem mudar a história natural da doença. O grande sonho é encontrar uma estratégia eficiente que reduza o acúmulo dessas proteínas no cérebro. Estudos com ratinhos vêm demonstrando resultados positivos de vacinas com a intenção de reduzir o depósito de beta-amilóide. Além da redução, os ratinhos que tomam a vacina ficam mais espertos. Essas pesquisas foram o alicerce para que um estudo em humanos fosse iniciado no ano de 2000 e há poucos dias tivemos acesso aos seus resultados em publicação da revista The Lancet. Os participantes do estudo já apresentavam diagnóstico clínico de Doença de Alzheimer e foi evidenciado que aqueles que usaram a vacina apresentaram uma significativa redução de depósitos de beta-amilóide no cérebro. Entretanto, o estudo não conseguiu demonstrar que essa redução mudou a velocidade de progressão da doença: os pacientes evoluíram tão mal quanto aqueles que não usaram a vacina. Os resultados não devem ser vistos exatamente como um banho de água fria, já que a redução de depósitos foi um resultado vitorioso. Entretanto, o fato da vacina não ter ajudado na evolução clínica dos pacientes reforça a idéia de que a simples queda de beta-amilóide seja insuficiente para impedir o processo degenerativo. Talvez o uso da vacina em fases mais precoces da doença possa ter um melhor desempenho clínico e essa deve ser uma estratégia a ser testada, já que os pacientes incluídos no presente estudo já apresentavam a doença em fase clínica moderada. E o diagnóstico da doença antes dos sintomas é a ordem do dia. Fortes linhas de pesquisa têm tentado demonstrar marcadores biológicos - seja no sangue, seja no líquido da espinha, ou através de métodos de neuroimagem - que possam detectar a doença antes que ela se espalhe pelo cérebro. São esses marcadores que conseguirão apoiar as pesquisas com vacinas e outras formas de tratamento para a Doença de Alzheimer. Esperamos que em breve cheguem a fazer parte do repertório da medicina preventiva como já são a mamografia, a colonoscopia e dosagem antígenos prostáticos. Nota do Editor: Dr. Ricardo Teixeira (drricardoteixeira.wordpress.com) é Doutor em Neurologia pela Unicamp. Atualmente, dirige o Instituto do Cérebro de Brasília (ICB) e dedica-se ao jornalismo científico. É também titular do Blog "ConsCiência no Dia-a-Dia" e consultor do Grupo Athena.
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