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SEÇÃO
Crônicas
09/08/2008 - 18h07
O cotidiano de Maria
Cecília França
 

Maria acorda todos os dias religiosamente às cinco e trinta da manhã. Para ela não existem domingos nem feriados. Seu ritual metódico começa no banheiro, onde se lava e escova os dentes com o mesmo creme dental de hortelã, há exatos treze anos. Só então acorda o marido com o beijo rotineiro seguido de lábios abertos, aos quais ele mal reage.

Maria passa o café seguindo medidas familiares de dois copos de água, duas colheres de pó e três de açúcar. Como tudo em sua vida, nunca menos – nem mais. Sua expressão de felicidade perdura enquanto o marido toma a primeira refeição do dia, pega a maleta e segue para o trabalho, não sem antes ouvir as mesmas recomendações para cuidar-se e voltar cedo para o jantar. Todas as suas frases são encerradas com leves beijos na boca do esposo.

Maria vê escoar seu dia sem alterações à espera das seis da tarde. Lava, passa, cozinha, faz todo o serviço de casa aguardando a hora de correr para o portão e avistar o marido apontando na esquina, sempre às 18h15. Cabisbaixo, ele caminha sem pressa, mas ela o recebe com um beijo caloroso de quem consegue satisfazer-se com o marasmo.

Maria aproveita seu banho demorado para preparar-lhe a janta. Nessa hora ela já está ansiosa pela chegada da meia-noite, quando finalmente sentir-se-á amada. O cochilo do marido durante o telejornal não é capaz de esmorecer-lhe a ânsia, que será potencializada assim que deitarem-se para dormir. Ele vira de costas, abraça o cobertor e diz-lhe boa noite, mas Maria não reconhece ali uma recusa e aproxima-se sorrateiramente em busca de satisfação.

Maria geme de prazer, sempre na mesma posição, depois vê o companheiro tombar para o lado, sempre direito, da cama. Ela não credita a passividade do marido a desinteresse, pelo contrário, mantém a rotina como forma de agradar-lhe eternamente. Na sua visão, basta que ele esteja certo de seu amor eterno. Maria então o abraça forte e toda noite dorme à espera do novo/velho dia que começa às cinco e trinta da manhã.


Nota do Editor: Cecília França é jornalista. Mantém o blog Jornalogia.

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