Hoje acordei às cinco da manhã. O dia ainda não havia clareado então fiquei na cama meditando. Este lugar é bom para meditar, a janela é praticamente uma parede de vidro, fica no nono andar de frente para o mar. Ouço o barulho das ondas e o canto de um pássaro que ainda não consegui identificar. Segundo a filosofia budista, este é o melhor momento para meditar, durante o nascer do sol. Gosto de meditar, mas não pratico meditação zen, aquela que você tem que tentar ficar com a cabeça vazia, gosto de pensar na vida. Mas de uma maneira diferente, não em problemas , mas na vida em si, na beleza tão contraditória que é esse presente, passado, futuro, que chamamos de vida. Gosto da filosofia budista, mas não pratico budismo, pois discordo de alguns fundamentos, como acontece com outras filosofias e religiões. Tenho dificuldade por exemplo, em aceitar o desapego total de tudo que é material presente no budismo. Aliás um desafio para qualquer ser humano nos tempos atuais, em que até monges budistas saem na porrada na disputa por uma liderança. Tenho apego sim, a certos seres, viventes ou não, pessoas que quero bem, objetos que tenham valor sentimental, a algum animal, ou planta que precisa dos meus cuidados. Acho o apego às vezes até necessário na prática do amor, no seu sentido mais amplo, em todas as suas formas. Mas esse apego é um apego saudável, como se fosse um tempero necessário ao amor à vida, afinal estamos aqui habitando um corpo de carne e osso, num plano material, e não podemos ignorá-lo, senão a vida vira uma indiferença só, uma espiritualidade egoísta. Saber exercitar o apego é mais uma tática no exercício do amor. Tudo tem seu equilíbrio, senão vira sentimento de posse, que é o avesso do avesso do desapego, que dá origem ao egoísmo, ao ciúme doentio. Bom, vou ficando por aqui, o dia amanheceu nublado, e o barulho das ondas e o canto dos pássaros já se misturam com o dos ônibus e dos carros. Um bom dia para todos.
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