A dislipidemia, cuja prevalência na população geral vem aumentando, provavelmente, em função do aumento do sedentarismo e hábitos alimentares inadequados (dieta rica em carboidratos e gorduras, principalmente as saturadas), consiste em alteração decorrente de distúrbio em qualquer etapa do metabolismo lipídico, com conseqüente elevação do colesterol e/ou dos triglicerídeos (lipídeos). Os lipídeos séricos, popularmente conhecidos como "gorduras do sangue" estão normalmente presentes na circulação, em quantidades equilibradas, sob a forma de colesterol e triglicerídeos, e participam de importantes funções, como na produção de hormônios e ácidos biliares, além de exercerem papel fundamental na estrutura das membranas celulares. Por outro, lado quando em excesso, estes lipídeos estão relacionados com a aterosclerose, que consiste na formação de placas (ateromas) que se depositam em vasos de médio e grande calibre. Estas placas podem aumentar e resultar no entupimento de vasos importantes, como acontece no infarto agudo do miocárdio e no acidente vascular cerebral isquêmico. É importante lembrar que a aterosclerose é uma doença de origem "multifatorial", ou seja, a dislipidemia consiste em apenas um, talvez o mais importante, dos fatores de risco para a doença. Dentre os outros fatores de risco incluem-se a hipertensão arterial, o diabetes mellitus, a síndrome metabólica, o tabagismo e o sedentarismo. A doença cardiovascular aterosclerótica consiste na principal causa de morbi-mortalidade em todo o mundo. Sabe-se hoje que este processo já se inicia na infância, conforme estudos que demonstraram que cerca de 50% das crianças de 1 a 10 anos e 100% daquelas acima de 10 anos já apresentam deposição de estrias gordurosas na aorta. As manifestações clínicas, entretanto, se fazem presentes, usualmente, somente na vida adulta. Estudos demonstraram ainda que a doença cardiovascular aterosclerótica se relaciona, em proporção direta e duplicada, com os níveis de colesterol. Ou seja, para cada 1% de redução nos níveis de colesterol se associa uma queda de 2% no risco cardiovascular. Percebemos, portanto, que a dislipidemia deve ser tratada com rigor, mantendo-se o colesterol e suas frações, assim como os triglicerídeos, dentro dos níveis desejáveis para determinada faixa etária ou determinado grupo de risco. Diante da importância da dislipidemia na aterosclerose e tendo em vista que o processo se inicia na juventude, torna-se imperativo que medidas preventivas sejam instituídas desde muito cedo. Assim, as crianças devem ser estimuladas, tanto em casa como na escola, a ingerirem menos gorduras, especialmente as saturadas, presentes nas carnes vermelhas, na gema de ovo, em miúdos de frango, no camarão e nas frituras em geral. Da mesma forma, devem ser estimuladas a fazerem mais atividade física, ou seja, quanto menos tempo ficarem em frente ao computador, à televisão ou ao vídeo game, melhor. Em resumo, quanto mais cedo forem introduzidos hábitos saudáveis em nossas vidas, maior será o ganho em qualidade de vida. Nota do Editor: Drª Yolanda Schrank é médica endocrinologista do Delboni Auriemo Medicina Diagnóstica/DASA.
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