Hoje, quando acordei às cinco horas, o relógio dizia que ainda eram quatro horas e trinta minutos. Tinha, então, meia hora para fazer alguma outra coisa fora da rotina, pois dormir novamente poderia ser fatal. Chegaria atrasado na sala onde está instalado o computador. É a rotina das cinco horas, quando amanheço, curioso para verificar se o carteiro eletrônico já me deixou alguma correspondência, além daquelas duas dúzias de spams que me oferecem prêmios, remédios para emagrecimento e até o tal viagra, como que se para amar necessitássemos de bengalas. Hoje pratico menos sexo e mais amor. O sol, que ainda não havia amanhecido, logo ameaçaria ficar escondido atrás das nuvens carregadas, que anunciavam chuvas para aquele dia. Não ouviu, naquela manhã, a minha tão fresca saudação: “bom dia sol”. Se ele já estava cansado de tais frescuras, como assim tantos pensam ser, para mim acho positivo saudar a natureza. Por isso, quando abro a janela, pontualmente às cinco da manhã – que muitos dizem ser ainda madrugada – além do astro-rei, recebem as minhas saudações a árvore frontal à casa, a chuva (se houver), a rua por onde circulo e a cidade onde moro, que ainda me permite abrir, sem medo, uma janela pela madrugada. O computador já fez as suas leituras iniciais e se põe à minha disposição, como uma aeronave de primeira classe, para me levar aos locais distantes: São Paulo, Rio de Janeiro, com escala em Belo Horizonte. Mas no primeiro vôo, passa ao largo de Brasília, porque notícias de política, já no amanhecer, é masoquismo! Algumas vezes ele me leva a Londres ou ao Texas, e também ao Iraque, para me provocar dor. Diz ele que só mostra a realidade. Um real bem difícil de se digerir, ainda mais de barriga ainda vazia. Faltava meia-hora para a minha rotina. Decolar para a viagem diária, em horário adiantado? Não achei conveniente. Sairia da rotina que me parece ser saudável. A adjunta do lar – não acho humano chamá-la de empregada – que pontualmente, às cinco horas e cinco minutos, aponta no portão com sua bicicleta, trazendo o pão fresquinho, ainda tinha trinta minutos a seu favor. Fui, então, à cozinha, me lembrar do velho tempo de solteiro, na saudosa república de estudante onde, sem empregada ou outra opção, na semana de minha escala, coava o café da manhã, que ficava na garrafa até a tarde. O aroma saboroso fazia acordar os demais companheiros. Assim, fui à lata do pó preto e o coloquei na água, que já começava a ferver. Veio-me ao pensamento: “Se temos um pó preto que nos vicia, sem fazer mal, por que alguns preferem o pó branco?” Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, DRT-398/BA, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi Bahia... É jornalista investigativo, escritor, poeta, e adepto do humor. Também conhecido como “Jornalista do Sertão”. E-mail: seupedro@micks.com.br.
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