Os não-desmemoriados devem estar lembrados do escabroso episódio ocorrido com Bill Clinton – na época Presidente dos Estados Unidos da América – e Monica Lewinsky, jornalista estagiária da Casa Branca. Durante muito tempo Monica esperou que o assoberbado Presidente lhe concedesse uma audiência, menos uma questão de status e de engorda de seu curriculum vitae do que uma questão de foro íntimo, apaixonadíssima que estava ela pelo bonitão Bill, sendo Hilary Clinton sabedora disso ou não, mordendo-se de ciúmes ou não. Monica tinha participado ativamente da campanha presidencial de Bill e ficava toda molhadinha sempre que ele subia em um palanque e emitia meia-dúzia de clichês e abobrinhas. Que importava o que pensava aquela cabeça com tão lindo topete louro, que importavam as palavras que saíam com tanto charme daqueles lábios tão sensuais! Não, nada disso importava para a jovem estagiária louca de paixão por seu ídolo. Após longa e ansiosa espera, finalmente o dia havia chegado. Um funcionário da Casa Branca foi avisar Monica que Bill havia atendido seu pedido e estava à sua espera no Salão Oval. Ela mal se continha em pé, suas pernas estavam bambas, seu coração batia num compasso de 8/8, típico de Dave Brubeck, num momento de indizível júbilo. Lá chegando, Bill pediu à moçoila que se sentasse e se sentisse à vontade, percebendo logo um inconfundível brilho de forte desejo nos olhos de Monica. Como a coisa começou, é difícil dizer, mas no meio da longa jornada nas estrelas, apareceu o temível Darth Vader, minto: tudo se passou numa tranqüilidade sideral e, de repente, não mais que de repente, Bill puxou um Habana que tinha sido presente do Prefeito de Miami - um exilado cubano com muita admiração por Fidel, seu vira-latas - deu umas baforadas no ar, mas não sem antes esfregar bem o charutão – antes de acendê-lo, é claro - nas partes pudendas da moçoila. É preciso dizer que não estou inventando nada, porque careço de talento para a ficção e porque sou perdidamente apaixonado pela realidade. O que acabei de dizer, bem como o que direi a seguir, foram coisas veiculadas pela mídia, sem nenhum desmentido da parte dos dois envolvidos no estranho love affair. Bill encarava Monica como mais um divertimento sexual, embora não fosse este o ponto de vista de Monica, que era de fato apaixonadíssima por Bill. E como os diplomados pela Universidade da Vida estão carecas de saber: não há nenhum bem nem nenhum mal que uma mulher apaixonada não possa fazer, assim como inexiste coisa que o objeto de sua paixão lhe peça sorrindo para fazer que ela não faça chorando. No entanto, ainda que não desconhecedor desses fatos da vida, o garanhão Bill não se aproveitou da grande generosidade da moçoila. Fez apenas um pedido, bastante modesto por sinal: pediu a ela que desse um telefonema, como se fosse sua secretária particular. Monica atendeu prontamente e com grande satisfação o pedido de seu garotão. E após uma longa chamada, Bill disse que infelizmente o dever o chamava e ele tinha que encerrar por ali a audiência. Tempos depois, o escândalo veio à tona: Presidente dos Estados Unidos transando no Salão Oval da Casa Branca Esta, ou coisa semelhante a esta, era a manchete de todos os jornais do mundo. Saiu até mesmo no Granma, o jornal único de Cuba, não que fosse ele dado ao sensacionalismo, mas sim como mais uma das incontáveis evidências da decadência dos costumes no mundo capitalista de El Monstruo [Assim chama Fidel os EEUU]. Grande foi a celeuma. Clinton foi até ameaçado de receber um impeachment tal como o Collor, principalmente após ter metido seu semblante na TV e ter dito a milhões de telespectadores algo que muitos consideraram a mais deslavada das mentiras, uma lorota das melhores neste particular mercado político: “I had no sexual relations with that woman” [tradução literal: “Eu não tive relações sexuais com essa mulher”]. Mas, se dar um telefonema – caindo no literal: dar uma chupada no membro sexual do macho - não foi considerado “relação sexual”, a perplexidade tomou conta do mundo: afinal, o que pode ser considerado tal coisa? Ah! O próprio Bill se apressou em dizer do que se tratava: inappropriate behavior [em bom português: conduta inadequada}. Sem dúvida! Mas, inadequada do ponto de vista do decoro do cargo, evidentemente. Pois se um quer chupar e outro quer ser chupado, que seja feita a vontade de ambos, porém de preferência num motel. Ou, na falta do mesmo, num matel. Pouco tempo depois, por incrível que pareça, uma ampla pesquisa feita pelo Partido Democrata, o de Bill Clinton, envolvendo membros de todas as orientações sexuais e de todas as faixas etárias, mostrou que 73% dos entrevistados não consideravam felação (coito oral, chupadinha, caindo no popular) uma relação sexual. Unbelievable! Ora, o que não nos parece ser uma relação sexual é o sexo solitário de alguém se abrasando, e isto porque não está em jogo uma “relação” no sentido usual de uma relação diádica [em filosofês, uma envolvendo dois indivíduos], mas, de um ponto vista estritamente filosófico, pode existir uma relação monádica, ou seja: a que um indivíduo mantém consigo mesmo. Por exemplo: a relação de identidade ou a que se dá quando ele masturba a si mesmo solitário na longa noite que nunca encontra o dia. Mas há uma pergunta que não quer se calar: afinal de contas, Bill Clinton mentiu ou não ao declarar que não se tratava de uma “relação sexual”, porém de “conduta inadequada”? Bem, do ponto de vista daqueles espíritos sóbrios que não confundem jamais focinho de porca com tomada fêmea nem perninha de barata com serrote de duende, Clinton foi um habilidoso mentiroso sofista. Mas, do ponto de vista da maioria dos entrevistados pela referida pesquisa, Clinton disse uma profunda verdade. Cá entre nós e que ninguém nos ouça: coisas tais como chupadinhas não constituem mesmo relação sexual, são o que os americanos costumam chamar de “just a little fun along the way”. Como traduzir isto? Bem, vamos lá: “Apenas uns aperitivos antes do prato principal”. No caso, de Clinton, todavia, ele exagerou tanto nos aperitivos que acabou perdendo a fome! O my dog! Apêndice I: Prova inequívoca da paixão de Monica Tão importante foi aquele momento amoroso para Monica, que ela guardou sua calcinha impregnada com o sêmen de seu macho. Era nada mais nada menos do que um inesquecível souvenir. Mas, ao contar isso para uma amiga ao telefone, esta mesma, pressentido uma boa oportunidade para chantagear Bill com uma análise do ADN, disse para a indignada Monica: “Guarde isto, porque isto ainda pode ser bastante útil”. Que frieza e falta de caráter! É escusado dizer que Monica Lewinsky nunca fez nada que pudesse prejudicar Bill Clinton, sua grande paixão. Ela não era a tal de Paula Jones, que acusou Bill de assédio sexual em Little Rock (AR) quando ele ainda era Governador. Mas este é um novo capítulo de As Aventuras de Big Bill, o garanhão que veio do Arkansas. Apêndice II: Uma verdade bíblica... Se Sodoma tivesse um só justo, Javé não a teria destruído com o fogo do céu. Mas o problema é que naquela pecaminosa cidade não havia somente sodomitas. Tinha até mesmo aqueles que barranqueavam com potrancas, sacerdotes adeptos da pedofilia e políticos que topavam qualquer tipo de sacanagem, principalmente aquela que consiste em se locupletar com dinheiro do povo. “Raça de víboras!”. Já dizia o indignado profeta Isaías. Justa indignação! Nota do Editor: Mario Guerreiro (xerxes39@gmail.com) é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).
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