A fratura ao nível do quadril, que acomete o fêmur, ou osso da coxa, em sua região mais próxima do tronco, chamada tecnicamente de fratura do colo ou da região intertrocanteriana do fêmur, é uma preocupação cada vez maior no meio médico. Com o aumento da expectativa de vida da população e, uma vida cada vez mais ativa, o risco de quedas e fraturas tem aumentado. E a maior preocupação sempre foi com as mulheres, especificamente as de pele clara e com baixo peso, as quais são consideradas de maior risco de osteoporose pós-menopausa, ou seja, com maior fragilidade óssea e propensão a fraturas. No entanto, as estatísticas mostram um aumento cada vez maior de homens sofrendo fraturas no quadril. Hoje, nos casos de fratura proximal do fêmur em pacientes com mais de 75 anos, 30% são homens. Pouca atenção tem sido dada a este fato, impedindo que ações preventivas possam ser tomadas. O grande vilão que leva à ocorrência destas fraturas é a osteoporose. Sabe-se, há anos, que o osso depende da concentração sangüínea do hormônio estrógeno, presente em altas concentrações na mulher em idade fértil e, que tem uma diminuição muito grande logo após a menopausa. O estrógeno, associado com outros hormônios e fatores de crescimento, atua nas células produtoras de osso, os osteoblastos e osteócitos, estimulando a formação de massa óssea, embora atue também inibindo o crescimento em comprimento e largura dos ossos durante a adolescência (daí o fato das mulheres geralmente serem mais baixas e terem ossos mais finos que os homens). Isto ocorre pela presença, nas células do osso, de estruturas chamadas receptores de estrógeno, as quais percebem a presença do hormônio no sangue e reagem a ele, com maior ou menor produção dos elementos que compõem o osso. As mulheres têm maior número de receptores de estrógeno em suas células ósseas, o que explica o efeito de perda quando da menopausa, onde as concentrações do estrógeno diminuem muito. Mas, até recentemente, pouco se valorizou a presença do estrógeno no homem. Já se sabe que a célula óssea do homem também tem receptores para o estrógeno, assim como, é conhecido que o organismo masculino é capaz de produzir o hormônio, embora em quantidades bem mais baixas que a mulher. As pesquisas agora se direcionam para entender o quanto o estrógeno atua na origem da osteoporose do homem, e quanto isto é significativo como causa de fratura na idade mais avançada. Os fatores predisponentes da osteoporose no homem, como uso do cigarro, álcool, diminuição da testosterona, uso de corticóide e presença de algumas doenças crônicas, não conseguem, isoladamente, justificar um crescimento tão importante na incidência das fraturas do quadril no idoso. Três coisas são certas: o homem tem receptores de estrógeno, o homem envelhece e o homem tem sua qualidade de vida comprometida e o risco de morte aumentado após uma fratura do quadril. Portanto, mais atenção, por parte dos pesquisadores e comunidade médica, deve ser dada para à participação do estrógeno na osteoporose do homem, permitindo protocolos de investigação e tratamento mais adequados, semelhantes ao que já acontece com as mulheres. Nota do Editor: José Luís Zabeu é Professor da Faculdade de Medicina da PUC-Campinas e Chefe do Serviço de Ortopedia do Hospital e Maternidade Celso Pierro.
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