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Crônicas
18/08/2008 - 17h07
Destinos
Rafael Coelho
 

O relógio marcava cinco da madrugada. Ainda estava escuro e não havia nenhum comércio aberto. Trabalhadores deixavam os ônibus irem embora para assistirem à cena: uma mulher branca, calçando sandálias de dedo, com uma trouxa de roupa na mão e uma criança no colo, chorava sobre o corpo de um jovem em plena praça pública.

Já era dia e a mulher ainda estava sobre o cadáver. A polícia tentava saber qual era a sua ligação com o rapaz. A mulher parecia não ter forças para responder. Abaixava a cabeça e chorava, olhando para a criança que ainda estava dormindo em seu colo. Ambos estavam sujos. A dona da padaria levantou as portas do estabelecimento e logo preparou um pão com manteiga e um pouco de café. A mulher recusou e continuou aos prantos.

A cada instante a praça da cidade ficava mais cheia de curiosos. Ninguém sabia da onde era aquela mulher, conheciam apenas o rapaz, viciado em drogas que perambulava pelas ruas desde menino. A criança acordou e a mulher deu-lhe os seios para que ele se alimentasse. Do peito da mãe o franzino menino olhava para os curiosos, que se emocionavam com a cena.

Quando o rabecão chegou, a mulher se agarrou ao jovem assassinado e gritou: "Não o levem, por favor, não o levem!". Um policial se aproximou, retirou a mulher e perguntou: "A senhora é a mãe deste rapaz?". Ela respondeu: "Não. Eu só o pari, mas quem o criou foi a rua". O militar olhou para a criança em seu colo e perguntou: "E esse menino?". A mulher começou a chorar, tirou uma faca suja de sangue de dentro da trouxa e falou: "Mostrei a ele o que acontece com um filho que não ouve os conselhos de sua mãe". Os policiais pegaram o menino, algemaram a mulher e a levaram. A população gritou: "assassina!". A criança chorava desesperadamente. E o jovem morto em praça pública foi enterrado como indigente.


Nota do Editor: Rafael Coelho é acadêmico de jornalismo. Publicou nas antologias "Vide-Verso" e "Retratos Urbanos", da Andross Editora. É editor-chefe do site www.palavriando.com.br e está escrevendo o livro-reportagem "Outras histórias do 174".

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