O ex-bispo Fernando Lugo agora é o presidente do Paraguai. Sua campanha teve como rumo, bandeira eleitoral e alvos o Brasil e a Argentina, principais economias do continente e grande vizinhos do seu país. Aproveitou-se com maestria daquele sentimento de frustração popular arraigado no menor em relação ao maior para, em seus inflamados discursos, conquistar os votos e a admiração do eleitorado guarani. Uma das brilhantes teses eleitoreiras é o aumento do preço das tarifas que o Brasil paga ao Paraguai pelo consumo da eletricidade de Itaipu. Lugo candidato empolgava o eleitor ao dizer que os brasileiros devem pagar mais, mesmo sabedor de que dificilmente conseguirá sustentar sua tese diante dos acordos internacionais e de vizinhança que protegem a relação. Depois de anos de ditadura e de uma sucessão de governos instáveis, o Paraguai continua carente. O discurso do novo presidente tem viés social e reformista e recebe o apoio dos discutíveis Evo Morales (Bolívia) e Hugo Chávez (Venezuela). Não há dúvidas de que o continente precisa avançar e criar melhores condições de relação entre as nações e uma vida melhor para as populações. Mas enganam-se os que pensam conseguir isso através do populismo puro. O presidente Lula, colocado como alvo durante a campanha de Lugo, não pode transigir. Não deve, como nosso mandatário, permitir que o Paraguai faça com Itaipu algo parecido com o que a Bolívia fez das instalações da Petrobras e nem concordar com a derrogação dos acordos internacionais que regulam o funcionamento e a comercialização do produto da hidrelétrica construída na divisa Brasil-Paraguai. Se o padre Lugo está realmente interessado em estabelecer um novo tipo de relacionamento do seu país com os vizinhos, não deve ficar restrito a Itaipu. Será importante que seu governo adote medidas concretas para evitar que o território paraguaio seja utilizado para o cometimento de crimes no Brasil. Seria de alta valia se criasse mecanismos para impedir a entrada, venda e registro no Paraguai de veículos furtados no Brasil. Deveria desenvolver um programa para evitar o cultivo nas fazendas paraguaias da maconha produzida para abastecer o tráfico brasileiro. Também seria extremamente útil que se preocupasse em conter a imigração ilegal de orientais e o contrabando de mercadorias e armas que o Paraguai importa, usando os portos brasileiros, para abastecer o comércio-formiga através das fronteiras com o Brasil. Se quiser transformar seu país e obter o respeito internacional, o novo presidente tem muito o que fazer. Não pode ficar apenas em questões pontuais e de interesse unilateralmente paraguaio. Deve admitir que seu país também contribui para uma série de problemas enfrentados pelos vizinhos e, antes de reclamar os próprios interesses, o melhor seria discutir a problemática como um todo. Por mais que se deseje ver o vizinho Paraguai vivendo um novo tempo, Brasil e Argentina não podem e nem devem abrir mão de seus interesses. Jamais poderão ceder aos paraguaios sem que esses nossos vizinhos resolvam seus problemas que nos afetam... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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