Domingo é dia das beatas irem à missa, dos pastores aconselharem os rebanhos, e de eu ficar um pouco mais de tempo na cama. Afinal, sou autônomo; não tenho hora de começar e nem de acabar o meu serviço, depende em que horários as notícias acontecem, ou um caminhão rola pela ribanceira abaixo. Sim, ainda tenho um plantão dominical ao mês. Mas o domingo que aqui reporto era um domingo especial. Até a empresa telefônica deixou mudos os telefones naquela manhã. Ainda eram oito horas, quando a campainha tocou. Fiz de que não ouvi e novamente me arrumei na cama, imaginando quem era o atrevido que me perturbava naquela sagrada madrugada. Novamente, e insistentemente, a campainha tocou. Olhei pela brecha da janela, e vi um homem bem-aparentado, com uma pasta na mão, com um largo sorriso, sapato engraxado, e gravata também, acompanhado de outro igualmente bem-vestido. Acreditando que se tratava de Testemunhas de Jeová, resolvi atender a dupla. Mandei que me esperassem na varanda, tempo em que lavei o rosto, calcei os chinelos e saí do pijama! Atendi-os brincando: “Eu também sou testemunha, mas não sei se de defesa ou acusação”. Certifiquei-me que a empregada já não estivesse com o arroz no fogo, e a chamei. Afinal, exercitar leituras sobre Deus sempre é bom. Ainda mais que a dupla falou em me trazer a salvação. E quem não deseja ser salvo? Enfim, estávamos os quatro atentos um ao outro, quando o pregador abriu a pasta e anunciou: “Aqui está salvação”. E me tacou nas mãos um santinho de campanha política, complementando: “Em troca de seu voto, eis a salvação de sua cidade”. Um pretendia ser prefeito e outro vereador. Era a dupla de candidatos número um a visitar minha casa, na varanda. Custei a me livrar da dupla e, de olhos fechados, imaginei uma cidade paraíso, pela descrição que o candidato dava. “Vou fazer isto, vou fazer aquilo, vou derrubar isto, erguer aquilo”. Um falatório danado, que fez a minha empregada pedir folga naquele dia, dizendo: “Só vou até a urna fingir que voto. Isso para não perder a minha bolsa-família”. Eu, que só consegui me livrar dos ditos quase na hora do almoço, e como não teria isto neste dia, já que a minha secretária do lar entrou em folga, voltei a dormir com mente raciocinando: “E se eu não votar neles, a cidade continua igual; violenta, sem bom atendimento médico?”. E assim, como os motoristas bêbados continuam matando inocentes, pelo menos diminuam os ladrões na política. Nota do Editor: Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, DRT-398/BA, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi Bahia... É jornalista investigativo, escritor, poeta, e adepto do humor. Também conhecido como “Jornalista do Sertão”. E-mail: seupedro@micks.com.br.
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