Agosto é um mês emblemático. Difícil e, para muitos, assustador. Superadas as superstições, pois a gente lê, se instrui e reza para isso, ainda resta um vestígio de medo. Mês de cachorro doido. Dizem por aí. Nunca vi, nem quero ver um cão raivoso na minha frente. Bastam-me outros seres irados. Nossa história recente ainda vem contribuir com a má-reputação do oitavo mês do ano. Quem freqüentou a escola aprendeu que o suicídio de Vargas e a renúncia de Jânio tiveram datas em agosto. O último episódio deu início ao processo que culminou em tempos sombrios. Por outro ângulo, o primeiro fato histórico rendeu um romance primoroso de Rubem Fonseca, que por sua vez virou série de TV, das melhores. Sei que aqui em Natal, uma das esquinas do Brasil, venta loucamente em agosto. Um vento doido varrido, que varre o chão, o juízo e a saúde da gente. Você sabe o que é freqüentar uma praia nessa época e levar uma surra de areia? Eu sei. O cenário é lindo. O mar, o céu e o sol estão lá, mas areia e o vento a mil por hora também aparecem vez ou outra e a experiência é meio assustadora. Mas nem sempre ocorre. Fiquem tranqüilos. A mim coube-me maus-bocados neste mês. Os astros já haviam me avisado. O sol estaria em leão, meu signo oposto. Todo cuidado seria pouco. E assim foi. Digo foi, pois já estamos a menos de dez dias do fim do mês e superei meus sustos. O mais interessante é que o vento de agosto me fascina e eu faço coro com ele. Guardo, por exemplo, a tradução literal de The Teahouse of the August Moon, um filme com Marlon Brando, passado no Japão, que vi menina na TV, do qual não lembro quase nada, mas que para mim é o mais poético título do cinema. Nada superou na minha cabeça romântica ainda “Casa de Chá do Luar de Agosto". Agosto tem má reputação, contudo não é assim como pintam e dei algumas pinceladas suaves nesse texto para ilustrar o que ora afirmo. De qualquer forma, retornando ao calendário, cantarei com Beto Guedes a chegada da primavera. Setembro é um mês lindo e pleno de promessas boas. Que bons ventos nos tragam amor, saúde e sorte. “Quando entrar setembro E a boa nova andar nos campos Quero ver brotar o perdão Onde a gente plantou Juntos outra vez Já sonhamos juntos Semeando as canções ao vento”
(Beto Guedes e Ronaldo Bastos). Nota do Editor: Evelyne Furtado é jornalista, poetisa e cronista em Natal (RN).
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