Ele chegou à Avenida Paulista vestido de cowboy. Usava botas, esporas, calça de couro, camisa cinza e um colete preto também de couro. Usava ainda alguns apetrechos, incluindo o chapéu e o cinturão. Só não usava arma, porque era um cowboy de paz. As pessoas olhavam para ele e sorriam. Uns jovens que saiam da faculdade, ali perto, gritavam, zombadores, a palavra caipira. Ignorando seu entorno, parou na frente do número 900 e abriu os braços, fazendo movimentos desconexos – uma mistura de Tai Chi Chuan com golpes de caratê. O ilusionista, que aparentava um palhaço ou um ator canastrão, não falava e nem sorria. Ele pegava o ar com as mãos. Fazia movimentos circulares com o pescoço. Dançava um tango abraçado nele próprio. Sentava no chão, mas levantava em segundos. Parava no meio da calçada e abria os braços em posição de duelo. Uma pequena multidão parou para olhar o que achava ser um artista de rua. Ele olhava o sol e esticava os braços tentando pegá-lo. Ele chutava bolas imaginárias em gols imaginários. Os minutos foram passando e as pessoas se dispersando. Mas o Ilusionista não se deu por vencido na dura tarefa de criar seu próprio mundo. Começava a passear com seu cachorro e depois dirigia o seu carro. Andava de bicicleta. Nadava. Desenhava. Abria e fechava um guarda-chuva. Disparava um arco e flecha e depois batia com a mão na boca emitindo grunhidos. Fazia careta e fazia mímica. Era solitário e era o mundo todo. Era artista e era platéia. E sapateava. E cavalgava. Era o mocinho e era o bandido. De repente, o ilusionista parou como quem ouve um chamado. Colocou a mão esquerda debaixo do queixo, amparando seus planos. Ergueu a mão direita com o dedo indicador em riste e fez um bico com a boca, enquanto balançava afirmativamente a cabeça. Então, se aproximou de uma lixeira presa ao piso por uma barra de ferro. Ajoelhou-se e levantou a perna esquerda, como um cachorro que urina num poste. Depois, cheirou a lixeira antes de se levantar. Foi aí que enfiou a mão direita dentro da calça e retirou de lá um cartão de visitas, todo amassado. Nele, leu o nome de seu psiquiatra. Depois, colocou o cartão na lixeira e sorriu. Por fim, pela Avenida mais conhecida do Brasil, saiu movimentando os braços como se fossem asas e imaginando ser um pássaro, um avião ou o Batman. Qualquer coisa, menos louco. Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.
|