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Opinião
07/09/2008 - 07h04
Reflexões a luz da Sagrada Escritura
Dartagnan da Silva Zanela
 

"A sabedoria é a parte suprema da felicidade". (Sófocles)

A Sagrada Escritura, com suas sapienciais palavras, nos ensina (Sab, I: 1): “Amai a justiça, ó governantes, tende bom conceito de Deus, e com sinceridade de coração buscai-o [...]”. Estas poucas e profundas palavras nos revelam com grande clareza dois pontos fundamentais que devem nortear toda e qualquer ação humana e, principalmente, a ato de educar.

Primeiramente, afirma-se que todos nós, necessariamente, devemos amar a justiça se desejamos realmente lograr agir com sabedoria. Amar realmente algo é desejar confundir-se nos átrios deste algo, tornando-se este. Para tornar-se este algo, também, é fundamental que saibamos com clareza o que ele é. Por isso, o primeiro passo que devemos dar seria justamente o de indagar-se sobre o que é justiça.

Falando de modo simples, sem incorrer em nenhuma forma de simplismo, justiça é tão só a atribuição a cada um segundo o seu mérito, ou seja, a devida medida dos atos de cada ser humano.

Ainda, lembramos aqui os ensinamentos do filósofo e jurista Miguel Reale que nos ensina que: “[...] a justiça se apresenta como condição transcendental da realização dos demais valores, [...] por ser a base sem a qual os demais valores não se poderiam desenvolver de forma coordenada e harmônica, numa comunidade de homens livres. É por tal razão que [...] qualifico a justiça como valor franciscano, vendo nela um valor-meio, sempre a serviço dos demais valores para assegurar-lhes seu adimplemento, em razão da pessoa humana, que é o valor-fim”.

Nos dias atuais, mais do que nunca, a seara da educação vem tratando os mancebos não como fins em si mesmos, mas como meios para se atingir algo que os educadores e burocratas da educação julgam ser algo mais elevado. Toda manifestação do educar na sociedade brasileira justifica-se literalmente no intento de transformar os indivíduos para que eles venham a transformar a sociedade em um mundo melhor possível (seja lá o que isso signifique).

Ou seja: está-se doutrinando diametralmente os jovens para que eles sejam um meio do intento político-ideológico de um grupelho de pseudo-iluminados, desdenhando-se o fato de que o educar, antes de qualquer coisa, deve guiar o indivíduo a encontrar o esclarecimento para apenas depois, se o indivíduo julgar necessário, mudar o que ele acredita que seja apropriado.

Todavia, se voltarmos nossas vistas para os materiais didáticos que estão sendo utilizados pelas instituições de ensino e quais as discussões que permeiam as publicações para educadores percebermos que, de uma forma ou de outra, os educando são vistos literalmente como um meio para realização de algo “melhor” para a sociedade e não como um fim em sim mesmos.

Doravante, ainda no pequeno versículo da Sagrada Escritura citado no início desta breve missiva, devemos destacar o segundo conselho que nos é dado: “tende bom conceito de Deus”. Para o bom desenvolvimento de um indivíduo é fundamental que se tenha uma clara noção do que seja Deus, pois, é a partir desta noção que nós podemos ter uma clara compreensão do que é a Verdade e, a edificação de qualquer conhecimento desvinculado da Verdade é uma construção incerta, frágil e principalmente, indigna.

Ora, se tudo é relativo o próprio ato de educar é impróprio, pois, se todos os valores e saberes tem a mesma valoração o que justifica que um indivíduo deva ser empossado de uma determinada autoridade em detrimento da de vários indivíduos? De mais a mais, ensinar a uma pessoa que a Verdade não existe, mas que apenas existem verdades relativamente válidas, é o mesmo que dizer que conhecer seria o mesmo que dizer o que se acha que isso ou aquilo é, ao invés de exercitar a capacidade de compreender o as coisas realmente são.

Por isso não me espanta nem um pouco que em nosso país nos dias atuais todas as pessoas têm uma opinião sobre todo e qualquer assunto sem ao menos ter dedicado uma boa atenção para estudar o tema que se está opinando com tamanha autoridade (risos). Autoridade auferida pelo desdém conferido ao assunto que se julga conhecer ao ponto de exigir que todos respeitem a sua ignorância, digo, opinião, sobre ele com se fosse a mais decantada “visão crítica da realidade”.

Por fim, as últimas palavras do primeiro versículo do livro da Sabedoria nos dizem que devemos com sinceridade no coração buscar a Verdade. Sinceridade é uma virtude basilar para o bom desenvolvimento de um aprendizado e bem como de um ensino profícuo. A sinceridade intelectual pode muito bem ser resumida nas palavras ditas pelo filósofo Olavo de Carvalho, que nos ensina que sinceridade intelectual é falar que não sabe aquilo que não sabe e que sabe aquilo que sabe. Nada mais e nada menos que isso.

E, a partir destas considerações poderíamos, sinceramente, refletir sobre o sincero sentimento que move os pais a colocar um filho em uma escola, que levam uma criança a assistir uma aula e que levam um professor a dedicar sua vida ao ofício de ensinar. O que realmente nos leva a tomar uma atitude dessas? Para melhor orientarmos as possíveis reflexões sobre esta última indagação, lembramos aqui os seguintes ensinamentos do referido livro Sapiencial (Sab, I: 3 - 4): “Em verdade os juízos tortuosos afastam de Deus, e a Onipotência, posta a prova, confunde os insensatos. Por que a sabedoria não entra numa alma maliciosa, nem habita num corpo entregue ao pecado”.

Se em nossa consciência nós não temos claro o que desejamos para a nossa vida e o que almejamos aprender desta em nossos atos, como podemos chamar isso de educação? Como podemos afirmar que um gesto como este que aprisiona o indivíduo em sua subjetividade seja um ato educador? Como podemos afirmar que se está desejando aprender algo se nosso coração na maioria das vezes encontra-se imerso na total insinceridade?

Mas justamente para isso que se dá o nome de “educar” em nosso país. Por essas e outras, compreende-se a raiz de muitos de nossos males societais, não é mesmo?


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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