Como se fosse uma crônica de uma morte anunciada, o Jornal “Fala Brasil” da TV Record, apresentou hoje (05/09/08) matéria em que aborda o assassinato continuado de mendigos em São Paulo. Na mesma matéria foi destacado que há moradores de rua que tem casa na periferia, mas dormem nas ruas durante a semana para ficarem perto do emprego ou porque é onde conseguem o sustento através da catação de sucata ou atuando como camelôs. Em 08/08 participei do Seminário “Políticas Sociais e Direitos Humanos no Centro de São Paulo” em que se discutiu esse assunto. Quando cheguei à Câmara Municipal de São Paulo, o Sr. Anderson Lopes, do Movimento Nacional da População de Rua criticava o subprefeito da Sé, Andréa Matarazzo, por sua política de higienização do centro, atitude também violentamente criticada pelos demais participantes da primeira mesa, cujo tema era: “Violação dos Direitos Humanos e a Política de Atenção à População em Situação de Rua”. “Queremos ter o direito de ir, vir e ficar. Não queremos a política de exclusão, de isolamento, como a atual administração vem fazendo. Ela extinguiu a bolsa hotel, substituindo-a pela política de albergue. Ao criar o AMA - Assistência Médica Ambulatorial da Boracea, destruiu o Projeto Boracea e todas as políticas de inclusão social que vinham sendo implementadas. Queremos o direito de ser bem atendidos em qualquer unidade do SUS. Não queremos mais ser chutados e expulsos com spray de pimenta. Queremos que os programas sociais sejam garantidos.” Ao voltar para Ubatuba, encaminhei um relato aos vários jornais, virtuais e impressos, mas ninguém publicou porque acredito que achem que não tem interesse local. No entanto, a imprensa tem o dever ético de contribuir para elevação do nível cultural, de percepção da realidade, dos problemas que comprometem a qualidade de vida do nosso cotidiano e para a busca de soluções através da divulgação de informações e de pluralidade de opiniões e percepções. Não podemos esperar a casa ser roubada para colocar a tranca. A maioria dos problemas da cidade ocorre porque não há planejamento, não há projeções dos problemas que poderemos enfrentar no futuro e de possíveis soluções. Como disse o prefeito no debate da Band Vale, Ubatuba hoje é a cidade que tem o menor nível de violência do Litoral Norte. No entanto, é preocupante que os maiores índices de homicídios estão se deslocando das capitais para pequenas e médias cidades, estando entre as três piores, São Sebastião e Caraguatatuba. Portanto, está do nosso lado. Quem morou na Zona Sul de São Paulo e viu a escalada da violência atingir nossas escolas e nossos bairros, matando os jovens mais que a guerra do Iraque, sabe que é mais fácil prevenir que remediar. Por isso, no início da atual administração, trouxemos uma equipe do Jardim Ângela para relatar essa experiência. Eles conseguiram reduzir mais de 30% essa mortalidade, mas para isso foram necessários vários anos e a articulação de toda a sociedade; foi necessário enfrentar o tráfico e os grupos paramilitares. Geralmente a violência ganha mais espaço quando atinge a classe média e a classe rica, como nos casos do Tim Lopes, da Ana Carolina Jatobá, da Suzane Richthofen e outros. Mas quando atinge pobres e moradores de rua, há muita insensibilidade. A história mostra que a omissão do povo alemão levou ao genocídio de 6 milhões de judeus. Aqui, em Ubatuba não chegamos a esse ponto ainda, mas já constatamos muitas situações de intolerância e de preconceito, especialmente contra os mineiros de Ladainha e Poté, esquecendo que ele também são brasileiros e, como seres humanos têm o direito de ir e vir. Às vezes, quem expressa esse preconceito também não é daqui mas é de uma classe econômica mais alta. Então, se percebe que existe um preconceito de classe que se tenta ocultar mas que às vezes vem à tona. Sou novo na cidade mas também já ouvi, em várias situações, que esse aumento da população tem sido estimulado por políticos locais de olho no voto de novos eleitores. Não sei se é verdade mas diz a sabedoria popular que “onde há fumaça, há fogo.” Rui Alves Grilo ragrilo@terra.com.br
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor em Ubatuba (SP).
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