05/09/2025  03h57
· Guia 2025     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Opinião
09/09/2008 - 05h41
Visão crítica ou estereotipo?
Mario Guerreiro - Parlata
 

“Uma boa notícia para a cidadania nos chega através do Ministério de Desenvolvimento Social, que é responsável pelo programa Bolsa Família.

Ao contrário do que muitas vezes ouvimos falar sobre o espírito do brasileiro, de que é acomodado, de que resolve as coisas na base do jeitinho, e que o negócio é levar vantagem em tudo, uma estatística recém divulgada pelo Ministério revela que, de 2004 até hoje, mais de 60 mil famílias pediram voluntariamente seu desligamento do programa do governo.

E o motivo alegado em todos esses pedidos foi da mais pura cidadania exemplar: essas famílias simplesmente passaram a ter uma renda mensal maior e decidiram devolver seu cartão de benefício para que outra família em situação pior pudesse usufruir dele.” [em avozdocidadao.com.br, 2/9/2008].

*

Supondo que estes dados sejam corretos, restaria ainda comparar com o número dos que já receberam o referido benefício e verificar a que porcentagem correspondem essas 60 mil famílias. Supondo que correspondam a mais de 50% do total de famílias recebedoras da bolsa - que abriram mão da mesma por ter conseguido um emprego - teremos que reconhecer que julgar o povo brasileiro como “acomodado”, como adepto da famosa Lei de Gérson: “O brasileiro gosta de levar vantagem em tudo”, enfim como desprovido de caráter como Macunaíma etc. não passam de lamentáveis estereótipos.

Mas se essas 60.000 famílias corresponderem a apenas 10% ou mesmo 20% do total das beneficiadas que posteriormente conseguiram um emprego, não poderemos tirar outra conclusão senão a de que elas representam ilustres exceções de uma maioria de acomodados e sem-vergonhas, exatamente como Macunaíma, “o herói da nossa gente”, “um herói sem nenhum caráter” [segundo os epítetos do criador da personagem, Mario de Andrade].

Como sabemos, o exame do comportamento ético individual pode dispensar qualquer avaliação quantitativa de caráter estatístico, mas o comportamento ético de uma coletividade não pode dispensar tal coisa, sob o risco de estar propagando estereótipos.

A propósito, é importante não confundir “preconceito” com “estereótipo”. Preconceitos costumam ter uma gênese variável, tanto podem ter sua origem em idiossincrasias – como diz o próprio nome, algo de caráter tão individual quanto impressões digitais – quanto em coisas de caráter coletivo, tais como costumes de um povo.

Estereótipos podem ter um caráter coletivo, mas não decorrem de idiossincrasias: são sempre produtos de generalizações abusivas. Por exemplo: sabendo-se que 10% de brasileiros são ignorantes, faz-se a generalização: “O povo brasileiro é ignorante”. Mas é preciso lembrar que nem todas as generalizações são abusivas e nem todas constituam estereótipos. Mas isso é outro assunto para ser abordado em outro artigo.


Nota do Editor: Mario Guerreiro (xerxes39@gmail.com) é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "OPINIÃO"Índice das publicações sobre "OPINIÃO"
31/12/2022 - 07h25 Pacificação nacional, o objetivo maior
30/12/2022 - 05h39 A destruição das nações
29/12/2022 - 06h35 A salvação pela mão grande do Estado?
28/12/2022 - 06h41 A guinada na privatização do Porto de Santos
27/12/2022 - 07h38 Tecnologia e o sequestro do livre arbítrio humano
26/12/2022 - 07h46 Tudo passa, mas a Nação continua, sempre...
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2025, UbaWeb. Direitos Reservados.