As dificuldades econômicas dos norte-americanos, sentidas no mercado imobiliário e hoje incrustadas nas redes bancária e securitária estão dando um nó nas bolsas de valores de todo o mundo. A desvalorização das ações tem sido tão grande que alguns especulam estarmos às vésperas de algo parecido com o “crash” de 1929. Exagero, pois temos hoje um mundo muito diferente do que há 80 anos e as dificuldades, embora grandes, não parecem tão severas. No mundo atual - pilotado com o emprego de imensas redes de computadores, comunicação e com a participação “on-line” de todo o mercado e centros que acumulam o saber contemporâneo - existem medidas de emergência que podem transferir a economia de mãos, mas dificilmente permitiriam uma quebra total. Os governos e o mercado têm de desenvolver toda sua capacidade e esforço para fazer frente às dificuldades. Tanto que já houve a mobilização dos Bancos Centrais e o mercado reagiu positivamente. O Brasil dos últimos tempos tem sido ufanista e capitalizador de prestígio com os acontecimentos recentes. Muitas vezes, tanto o partido quanto o presidente exageram ao se auto-atribuírem a boa posição da economia brasileira em comparação à dos demais países, as conquistas no campo petrolífero, a boa classificação do país pelas agências de aconselhamento de investimentos etc. São coisas que se construiu com o trabalho de décadas e que, algumas vezes, levianamente, os governantes procuram posar como autores absolutos. Desde 2003, quando assumiu, o PT tem encontrado céu de brigadeiro na economia internacional. O bom momento mundial tem arrastado o Brasil como uma corrente térmica que faz voar o avião mesmo sem a força dos seus próprios motores. Agora o momento é de turbulência. Espera-se que o governo brasileiro – especialmente as autoridades econômicas – tenham discernimento para nos manter fora da tormenta. Especialistas prevêem dificuldades pelo menos por um ano. Nesse período, só ficará imune à grande crise quem voltar sua produção para o mercado interno para, com seu aquecimento, agüentar o tranco vindo de além-fronteiras. O Brasil que nos últimos anos acumulou reservas deve agora voltar para si mesmo. A primeira providência que se espera é a redução da taxa de juros para incentivar o mercado local. O próprio governo poderá aquecer a construção civil através de planos habitacionais que gerem tanto casas para os que delas necessitam quanto emprego no setor. O presidente tem agora de mostrar a que veio e o seu partido provar seu comprometimento com a Nação. Governar com o mundo de vento em popa, é obra para qualquer simples mortal. O bom timoneiro se conhece durante a tempestade que, sem dúvida, está instalada na economia internacional. Vamos ver, finalmente, se o governo tem consistência ou está apenas cumprindo calendário e esperando pela sorte do presidente... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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