Um sábio da política, o presidente Tancredo Neves, foi procurado certa vez por um amigo. "Dr. Tancredo, vou contar-lhe um caso, mas peço que guarde segredo". Tancredo recusou: "Se você, que é dono do segredo, não consegue guardá-lo, não sou eu que vou conseguir". O governo quer que a imprensa faça aquilo que Tancredo não quis fazer: já que as autoridades vazam seus segredos, proíba-se a imprensa de divulgá-los. O ministro da Justiça, Tarso Genro, diz que não há ataque à liberdade de imprensa no projeto de lei que encaminhou ao Congresso. Mas há, sim. O fato é que a obrigação legal de guardar determinados segredos é das autoridades que os detêm. A partir do momento em que o segredo chega ao conhecimento de um jornalista, já deixou de ser segredo, e não há motivo para que o jornalista deixe de divulgá-lo. Que as autoridades, então, sejam responsabilizadas. Aliás, já faz tempo que está na hora de cobrar dos detentores de segredos legais que parem de vazá-los. Os inquéritos sigilosos que vazam gota a gota, sempre contra os réus, não são nenhuma novidade. E investigar o vazamento é simples: não há muita gente com acesso a esses documentos sigilosos. O problema é que, até agora, essas coisas nunca foram investigadas – até porque, tanto quanto se saiba, os vazadores e os investigadores do vazamento jogam no mesmo time. Há ocasiões específicas em que jornalistas guardam segredo: seqüestros, por exemplo, para não prejudicar as investigações. Mas são ocasiões pontuais, esporádicas. A obrigação do jornalista é dividir com seu público aquilo que descobre. A obrigação das autoridades é manter em segredo aquilo que for secreto. Se cada um fizer sua parte, o país funcionará bem melhor. E a tentação autoritária que costuma acometer os poderosos em geral com certeza se tornará menos perigosa.
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