Enquanto chovia em São Paulo, eu pensava nela. Distante sabe Deus quantos quilômetros. Distante mesmo. Muito distante. E eu sozinho com meus pensamentos. Aline não precisava ir embora. A família estava aqui. Os amigos. O trabalho. Eu. Todos. Mas Aline foi embora. Disse que queria um desafio profissional novo. Foi para longe. Falou que o Brasil não atendia mais seus anseios. Isso foi o que ela me disse. Isso foi o que eu acreditei. Não sei mais. Namoramos por dois anos e sete meses. Eu pensava que iríamos casar um dia. Eu pensava e ela também. Eu acho. Mas, de repente, as coisas mudaram. Ela mudou. Eu não. Mas a vida continua. Continuou. Deveria. Sei lá. Aline partiu chorando, mas não voltou atrás um só instante em sua decisão. Aline disse que voltaria ao Brasil um dia. Eu me ofereci para ir também. Recusou. Brigou. Disse não. Não, não e não. Minha família quis saber o que aconteceu. Nessas horas família enche o saco. Aline vivia na minha casa. Eu vivia na casa dela. Levávamos quase uma vida de casados. Quase. Aline queria ser mãe. Eu queria ser pai. Aline tinha 27 anos. Eu tinha 31. O momento parecia o certo. Estava tudo bem-planejado nas nossas cabeças. Acho que só os corações não entenderam nosso planejamento. Também posso estar errado em algo ou em tudo. E Aline nunca respondeu e-mails. Aline nunca enviou cartas. Aline nunca telefonou. Ela nunca voltou. Eu encontrei novas paixões. Encontrei um novo amor. Casei. Tive uma filha. Sou feliz. Mas nas noites chuvosas tenho um hábito que já cultivo há anos. Sento na varanda de casa e observo a chuva. Vejo, ouço e me molho. Nesse momento só existe uma coisa na minha cabeça, além da chuva. Só uma coisa. Só uma. Nada e ninguém mais. Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.
|