Mesmo com todas as notícias escatológicas sobre as conseqüências do desmatamento, ainda ouço, e tento não crer, pessoas dizendo que certas áreas florestais são “tantos lugares sobrando para plantar...”. Um conceito que vem de séculos, nutrido pela ignorância de quem pensa que o grande problema do mundo é a falta de espaço adequado para a agricultura. Não é. O grande problema é a falta de incentivo para o plantio. É claro que existem questões climáticas (secas, enchentes e outros fenômenos naturais), mas existem muitas terras ociosas, e as florestas não estão incluídas nessa categoria. Não são espaços ociosos. São guardiãs naturais da vida na terra. Guardiãs que agonizam, sofrendo pela falta de consciência ecológica das madeireiras, dos predadores humanos e dos produtores agrícolas inescrupulosos. É essa mesma falta de consciência que destrói os mares e rios em nome do lucro, com prejuízo da qualidade da água, da terra e do ar, levando-nos à fomentação de um mundo cada dia mais difícil à manutenção. Da vida. Ainda se acha que o buraco na camada de ozônio é uma invenção da mídia. Os pulmões sofrem, a pele idem, mas os olhos da consciência não conseguem ver essa realidade. Só se pensa na vida presente, imediata, proporcionando às futuras gerações um planeta deserto, quente e catastrófico. Ou o nada, pois é bem provável que não haja planeta, se o ritmo da destruição não desacelerar, até que cesse. Logo não existirão os alardeados “tantos lugares para se plantar”, porque eles precisam até mesmo da proximidade das florestas. E com as florestas destruídas, não há como plantar com sucesso. Com perspectivas de colheitas. Fala-se muito, hoje, em sustentabilidade. Mas esse conceito, em sua característica mais honesta, não chega aos mais simples. Os que lidam diretamente com a terra. Também não chega aos nossos filhos, porque deixamos para falar de natureza, preservação, consciência ecológica e sustentabilidade com os outros. Os que ficam mais impressionados e garantem a nossa fama. Nossa ascensão pessoal. Preferimos escrever para jornais, revistas e sites, a ensinar aos nossos esses conceitos fundamentais para a manutenção da vida. Há sim, espaço para o plantio. Só é necessário haver critério de produção sustentável e uma política de incentivo real para os produtores. A produção, entretanto, tem que ser de tudo. Não apenas de produtos que, por exemplo, servirão para alimentar máquinas. Motores. Nossos estômagos continuam precisando de combustível. Nota do Editor: Demétrio Sena é educador lotado no Colégio Estadual José Veríssimo - Raiz da Serra - Magé - RJ. Palestrante. Membro da Academia Mageense de Letras.
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