Esses dias ando muito pensativa. E de tanto pensar decidi tirar férias de mim. Há um ano não fico de bobeira, à toa, assistindo a um programa de televisão anti-reflexivo ou simplesmente na sacada olhando para o tempo. Finalmente, consegui dar uma pausa e sossegar. Fiz um retiro caseiro regado a chá de hortelã, músicas do Krishina Das, revistas com conteúdo leve e uma sessão filme+pipoca. Excelente! Eis que a segunda-feira chega e lá vou eu dar conta do recado. Voltei a pensar. Saco. Devia ter um OFF cerebral, desliga, PUF! E nesse fluxo de consciência me veio à mente que meus amigos estão mais ou menos assim, como eu, precisando aliviar a cabeça devido ao stress cotidiano. Cada um para um lado e com uma possível solução: acupuntura, meditação, banho de sal grosso (os que não têm oportunidade de descarregar em uma praia fazem o tradicional “do pescoço para baixo”, no chuveiro mesmo), yoga, zona rural, roda de cura xamânica, meditação transcendental, alinhamento de chacras e por aí afora, seguindo a linha alternativa em voga. Apoiado. Minha irmã entrou na onda e chegou aqui em casa outro dia renovada. Observando seu comportamento tranqüilo, perguntei se estava tomando remédio. “Não, estou tomando uns passes”, respondeu, com muita calma... é por isso que acredito em milagre. Já a galera que precisa de um suporte mas não faz a linha light contou dos benefícios alopáticos para acalmar e parar de quebrar prato na parede (o que pode ser benéfico em alguns casos). Tarja preta na cabeça. É a era dos ansiolíticos, hipnóticos, relaxantes, calmantes. Tarjas vermelhas também são extraordinárias, é o que corre nas pequenas bocas. Fluoxetina, carbamazepina, ritalina, cada um com uma função. Antidepressivos, anticonvulsivantes, estabilizadores do humor. Os preconceituosos dizem que é perigosíssimo, vicia, faz mal. Preferem tomar algumas coisinhas mas é para acelerar, dar uma ondinha, escapar da dura realidade. O batente é pesado, precisam distrair, pregam quase em uníssono. Bem, cada um no seu quadrado, cada qual com sua válvula de escape. Prosseguindo com minhas observações levei um susto quando vi, dia desses, uma cena curiosa. Minha sogra, que é usuária de remédio controlado para baixar a bola - vulgo crise de “nelvo” -, desandou porque seu psiquiatra foi para o Acre visitar a família e de lá seguiu para Machu Picchu, no Peru. Argumentou que precisava de um tempo para auto-avaliação, pretendia encontrar seu Eu profundo, verdadeiro, honesto. Um ser consciente, honestíssimo. Teimosa como é, disse que não iria se consultar com outro, de jeito nenhum! Passado um mês, a droga parou de fazer efeito e a danadinha alterou. Andando pela casa com o roupão aberto, já que perdera a corda, pegou o mouse do PC do filho caçula e amarrou na cintura. Ficou até bonitinho, criativa ela, imagética. Aquele fio preto com um troço pendurado. É... e ainda dizem que sou eu a desequilibrada. Sou, com certeza. Louca para ser normal! Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista.
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