Querer não é poder. O desejo é meu. Nasce em mim, mas realizá-lo, independe, muitas vezes, da minha vontade. Custei a aprender essa lição que vem com o amadurecimento. A vida impõe limites. Alguns podemos ultrapassar. Principalmente aqueles que só nos dizem respeito. Outros envolvem fatores externos pelos quais não temos controle. Crescer é entender a distinção entre uns e outros. Judith Viorst, psicanalista norte-americana, em "Perdas Necessárias", um livro essencial para mim, diz que “crescer significa estreitar a distância entre os sonhos e as possibilidades". Há quem demore muito a aceitar essa verdade. Levei parte da vida para entender e ainda luto para permitir que seja assim. Tenho clara em mim a certeza de que me é impossível transformar o mundo. Nem mesmo posso modificar uma só pessoa. Quanto às minhas próprias limitações, a batalha é constante. Em alguns casos sou indulgente comigo mesma. Em outros, brigo feito uma leoa para melhorar. Sempre quis ser uma pessoa boa. Nunca almejei a perfeição, mas já quis e quero ser melhor do que sou. Gostaria de ser mais generosa, mais segura, menos impetuosa. Melhorei em alguns aspectos e relaxei em outros. Conheço-me melhor hoje e gosto mais do que sou, mas ainda desejo subir mais degraus na vida. É aqui que entra o presente que ganhei da mestra Zélia Maria Freire, excelente escritora potiguar, que me ofertou "O Cancioneiro", de Petrarca. Delicada e querida Zelinha, comecei a ler, sim, contudo ainda estou na introdução, um texto especial de Jamil Almansur Haddad, que afirma a influência do autor italiano na obra dos poetas de língua portuguesa dos séculos XVI e XVII. Foi na obra acima que colhi o título dessa crônica. “O mundo todo abarco e nada aperto" é um verso de Luis Vaz de Camões, parafraseando Petrarca, em um poema lindo. Fujo da discussão dos grandes sobre se Petrarca foi ou não foi copiado por Camões. O que repercutiu em mim foi a beleza do verso e a vontade de abarcar o mundo todo sem apertar. Talvez um dia eu chegue perto dessa sabedoria. Tomara! Nota do Editor: Evelyne Furtado é cronista e poetisa em Natal (RN).
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