A Polícia Civil de São Paulo está em greve há mais de 20 dias. Distritos e outras repartições do sistema funcionam precariamente, com o mínimo exigido pela Justiça do Trabalho. A classe quer revisão salarial, o governo faz ouvidos de mercador e a população sofre. Por conta da greve, ficou difícil licenciar ou transferir veículos e o esclarecimento de crimes caiu quase a zero. O povo paga (via impostos) por esses serviços, mas não pode com eles contar. A greve dos policiais nada mais é do que o resultado de anos de uma política predatória. Os governantes preferem investir os recursos do Estado em obras onde podem colocar suas placas e depois fazer discursos eleitoreiros. O funcionalismo é colocado de lado e prejudicado em seus direitos. Em vez de fazer os reajustes da carga inflacionária e garantir a integridade dos salários, sucessivos governadores e seus áulicos recorrem a artifícios e sofismas. Durante anos pagaram abonos e gratificações aos ativos e deixaram até passar fome os inativos e pensionistas. Esqueceram-se que inativos e pensionistas têm o direito de receber o mesmo salário que os ativos do mesmo posto. Ultimamente, nem os pirotécnicos abonos foram suficientes para acalmar os policiais prejudicados pela política de arrocho. Tanto que a classe, depois de muitas tentativas de ser ouvida pelo estado-mau-patrão, foi à greve. E - surpreendentemente - o governo, ainda assim, comporta-se como se nada tivesse a ver com a paralisação e nem a obrigação de manter os serviços públicos. Os governantes atuais e aqueles que vierem a sucedê-los precisam entender de uma vez por todas que o funcionalismo é a segurança do Estado. Independente dos homens e partidos que estejam de plantão nos cargos políticos, o Estado possui o seu funcionalismo como garantia de funcionamento da máquina pública. Apesar de todas as injunções, preferências e compadrio político, quem acaba fazendo a máquina cumprir sua missão é o funcionalismo. Todos os nomeados politicamente são apenas passageiros e muitos deles decorativos no sistema. Sempre que o governante deixa de fazer as correções adequadas no salário dos funcionários, ele está sucateando esse grande patrimônio de toda a população. Mesmo que consiga, através da mentira e da demagogia, sair do governo com uma imagem de bom administrador, terá feito um mal irreparável para toda a comunidade. Neste momento difícil, onde os policiais civis clamam justamente por seus direitos e necessidades e o estado dá-lhe as costas, é preciso que algo seja feito em busca do equilíbrio perdido. Espera-se que a Justiça e as forças vivas da sociedade possam fazer algo pela volta ao diálogo e ao entendimento. Deixar o caos se instalar por completo não é o melhor caminho... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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