A Igreja Católica não se opõe à doação de órgãos, quando realizada de maneira ética, sem conotação comercial e com o pleno consentimento da pessoa ou da família após a morte. O Catecismo da Igreja ensina que "a doação gratuita de órgãos após a morte é legítima e pode ser meritória" (§ 2301). "O transplante de órgãos é conforme à moral e pode ser meritório se os perigos e os riscos físicos e psíquicos a que se expõe o doador são proporcionais ao bem que se busca no destinatário. É moralmente inadmissível provocar diretamente a mutilação que venha a tornar alguém inválido ou a morte de um ser humano, mesmo que seja para retardar a morte de outras pessoas. O transplante de órgãos não é moralmente aceitável se o doador ou seus representantes legais não deram para isso explícito consentimento" (§2296). Está claro, então, que a Igreja aceita que uma pessoa viva doe, por exemplo, um de seus dois rins para outra pessoa, se a medicina constatar que essa atitude generosa não lhe prejudicará gravemente. Na Encíclica Evangelium Vitae, o Papa João Paulo II disse: "Merece particular apreço a doação de órgãos feita segundo normas eticamente aceitáveis para oferecer possibilidades de saúde e de vida a doentes, por vezes já sem esperança" (n. 86). E no 18º Congresso Internacional sobre Transplantes de Órgãos, disse que: "A doação de órgãos é uma decisão livre de oferecer, sem recompensa, uma parte do próprio corpo em benefício da saúde e do bem-estar de outra pessoa" (Roma 29 de agosto de 2000). A Lei Federal 10.211, de 23 de março de 2001, determina que a família tem o direito de decidir a doação de órgãos da pessoa em estado de morte encefálica. Recentemente, em 25 de setembro de 2008, a CNBB publicou uma "Nota sobre a doação de órgãos", que diz: "Reunidos em Brasília nos dias 24 a 26 de setembro de 2008, nós - Bispos do Conselho Permanente da CNBB - desejamos esclarecer a posição da Igreja Católica a respeito da doação de órgãos de pessoas com morte encefálica comprovada. A questão tem sua relevância, dado o grande número de pessoas que estão à espera de algum tipo de órgão". "Encorajamos as pessoas e especialmente as famílias a que - livre, conscientemente e com a devida proteção legal - doem órgãos como gesto de amor solidário em consonância com o evangelho da vida. Certamente, estamos diante de um gesto nobre e comovente: um sim à vida. Aproveitamos a ocasião também para recordar que a moral católica considera lícita não apenas a doação voluntária de órgãos, bem como os transplantes. Encorajamos a todos a colaborarem sempre mais com as doações de sangue e de medula óssea, tão necessárias." Diante de posição tão clara, fica evidente que a doação de órgãos não contraria a fé cristã na ressurreição final, já que "Deus dá vida aos mortos e chama à existência o que antes não existia" (Rm 4,17). Todos aqueles que se dispõem a doar órgãos aos irmãos, tenham a certeza de que o amor e tudo o que se faz por amor permanecerão para sempre: "o amor jamais acabará" (1Cor 13,8). Nota do Editor: Prof. Felipe Aquino é teólogo e apresentador dos programas Escola da Fé e Trocando idéias, na TV Canção Nova (www.cancaonova.com).
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