Amar dá trabalho. Amor romântico, então, mais ainda. E falar sobre isso exige uma capacidade de compreensão e vivência que me faltam. Então resolvi falar sobre o ódio. Ele que é banido, empurrado, não assumido, ignorado, mas resiste, firme e forte. Você reza, imagina todos os seus inimigos cobertos pela luz branca do Divino Espírito Santo, Amém, acende vela, murmura baixinho pelo bem de t-o-d-a a humanidade, entoa mantras e dá-lhe espadada de São Jorge! Os dias passam, tudo corre bem, o cotidiano segue incólume e eis que acontece algo mínimo, pequeníssimo, uma gota no oceano e parece que uma lava devastadora emerge de suas entranhas. Ei-lo, o ódio. O prazer é todo meu! Cada pessoa nesse mundo de meu Deus tem seu grau de tolerância. A gradação começa com as almas puras, caridosas, os espíritos tranqüilos (essa eu escutei hoje e não acreditei), os que alteram vez ou outra até os irados de plantão. Eu costumo ser na minha mas quando meu calo aperta, eu saio engolindo sapos e rãs e aí tenho três opções: afastar-me do agente estressor, pelo menos por um tempo; bater um papo e falar abertamente sobre a causa do incômodo e, em última instância (em casos mais graves como convivência obrigatória com bestas quadradas) clamar pelo meu advogado, que me considera um misto de Santa Tereza Dávila com a Anaconda. Ô sentimento difícil de controlar... Ignorar de verdade, se for necessário conviver, para mim, não dá. Chega uma hora em que saio à francesa ou rasgo o verbo. Não sei fazer média, puxar saco, papel de falsa não é comigo. Uma pisada no dedão do pé do cidadão (ou cidadã) para espantar pode ser funcional. Nada demais. Uns palavrões podem ser de grande valia mas fora do horário comercial. Estratégias de ataque e defesa não faltam e se nada der certo, mande pentear macaco mesmo, com pente fino, ou ir pra aquele lugar, sabe? Aquela casa de madeira construída com uma árvore frondosa, que me dá o nome! Jogar balde de água com sabão em pó pela janela para refrescar os guris barulhentos é uma experiência única! (Atenção, não façam isso em casa, pode ser perigoso.) E o clássico: vá para um lugar que se preze! Ou o bom e velho: "o diabo que te carregue!" Atenção: o ódio faz mal ao fígado e, o amor, bem ao coração!
|