Fico pensando como entender outros idiomas. Não falo só do espanhol que estudo há seis meses. Não, não falo só disso. Talvez, nem fale disso. Mas fico pensando. E como entender aquela música em inglês daquele grupo que gosto tanto? E aquele livro, em alemão, do meu autor preferido? E a falta de dinheiro? E a falta de comida? E a falta de paz? E como entender a morte de quem a gente ama? E fico aqui pensando em como entender outro idioma. Eu, escritor dos desenganos, terei que esperar mais quantos anos para entender? Como será que a chuva cai e como será que o sol esquenta? Mas não é isso somente que penso e escrevo. Talvez, nem seja isso. Mas fico pensando. E como entender o que fala aquela poetisa francesa? E como entender as súplicas dos civis que morrem na guerra? E como entender o amor que acaba? E fico aqui pensando, ao longo da minha vida, em como entender outro idioma. Como entender o estupro daquela menina de apenas 5 anos de idade? Como entender o frio que mata o povo daquela cidade? Meus Deus, e como? Não, não falo só da dor que me consome. Talvez, nem fale disso. Mas fico aqui pensando. E como entender aquele filme grego? E como entender hieróglifos nas pedras? A pregação dos padres, rabinos e pastores? E como entender um circo de horrores? E fico aqui pensando em como entender outro idioma. O intelectual será que entende? O miserável será que entende? E os loucos – que sempre entenderam tudo – será que eles entendem? Não, apesar das aparências, não estou falando sobre o bem e o mal. Não, não falo só disso. Talvez, nem fale disso. Mas fico pensando. E aquele beijo de Judas o que será que quis dizer? E aquela rosa de Hiroshima? E aquela caminhada na Lua? E fico aqui pensando em como entender outro idioma. Como entender por que as mãos não podem ser dadas? Como entender o ar e os rios tão poluídos? Como entender todos os idiomas que o mundo fala nos gestos mais desprovidos de coerência? Como entender meus dedos que batem trêmulos no teclado – as lágrimas que caem dos olhos, mesmo fechados, as lembranças do tempo que não vivi, os sentimentos que já esqueci e como, e como, e como, aiaiaiaiaiaiaiai! E fico aqui pensando em como entender outro idioma. Os calendários amarelados e podres são jogados no lixo. Pessoas esquartejadas também. Imagens de Santos. Imagens de ídolos. Imagens de países e de pessoas que não significam nada – além de imagens. Não, não falo só disso. Talvez, nem fale disso. Mas fico pensando. E como entender as lavas de um vulcão? Porque explicar o mundo eu sei, mas como entendê-lo? E fico aqui pensando em como entender outro idioma. E como entender aqueles discos prateados que são vistos pelo céu vindos do desconhecido? As histórias de fantasmas, com toda a fé de quem as conta e todo o descrédito de quem as ouve? Mas, não. Não é sobre histórias que nesse texto escarrado eu grito. Nunca foi, não é, e nunca será somente isso. Talvez, seja muito mais que isso. Mas é que angustiado e rastejando entre as flores mais lindas e os excrementos mais mal-cheirosos – a humanidade só quer entender. Mas por que ela não entende? Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.
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