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SEÇÃO
Crônicas
11/10/2008 - 17h27
Outro idioma
Fábio de Lima
 

Fico pensando como entender outros idiomas. Não falo só do espanhol que estudo há seis meses. Não, não falo só disso. Talvez, nem fale disso. Mas fico pensando. E como entender aquela música em inglês daquele grupo que gosto tanto? E aquele livro, em alemão, do meu autor preferido? E a falta de dinheiro? E a falta de comida? E a falta de paz? E como entender a morte de quem a gente ama? E fico aqui pensando em como entender outro idioma.

Eu, escritor dos desenganos, terei que esperar mais quantos anos para entender? Como será que a chuva cai e como será que o sol esquenta? Mas não é isso somente que penso e escrevo. Talvez, nem seja isso. Mas fico pensando. E como entender o que fala aquela poetisa francesa? E como entender as súplicas dos civis que morrem na guerra? E como entender o amor que acaba? E fico aqui pensando, ao longo da minha vida, em como entender outro idioma.

Como entender o estupro daquela menina de apenas 5 anos de idade? Como entender o frio que mata o povo daquela cidade? Meus Deus, e como? Não, não falo só da dor que me consome. Talvez, nem fale disso. Mas fico aqui pensando. E como entender aquele filme grego? E como entender hieróglifos nas pedras? A pregação dos padres, rabinos e pastores? E como entender um circo de horrores? E fico aqui pensando em como entender outro idioma.

O intelectual será que entende? O miserável será que entende? E os loucos – que sempre entenderam tudo – será que eles entendem? Não, apesar das aparências, não estou falando sobre o bem e o mal. Não, não falo só disso. Talvez, nem fale disso. Mas fico pensando. E aquele beijo de Judas o que será que quis dizer? E aquela rosa de Hiroshima? E aquela caminhada na Lua? E fico aqui pensando em como entender outro idioma.

Como entender por que as mãos não podem ser dadas? Como entender o ar e os rios tão poluídos? Como entender todos os idiomas que o mundo fala nos gestos mais desprovidos de coerência? Como entender meus dedos que batem trêmulos no teclado – as lágrimas que caem dos olhos, mesmo fechados, as lembranças do tempo que não vivi, os sentimentos que já esqueci e como, e como, e como, aiaiaiaiaiaiaiai! E fico aqui pensando em como entender outro idioma.

Os calendários amarelados e podres são jogados no lixo. Pessoas esquartejadas também. Imagens de Santos. Imagens de ídolos. Imagens de países e de pessoas que não significam nada – além de imagens. Não, não falo só disso. Talvez, nem fale disso. Mas fico pensando. E como entender as lavas de um vulcão? Porque explicar o mundo eu sei, mas como entendê-lo? E fico aqui pensando em como entender outro idioma.

E como entender aqueles discos prateados que são vistos pelo céu vindos do desconhecido? As histórias de fantasmas, com toda a fé de quem as conta e todo o descrédito de quem as ouve? Mas, não. Não é sobre histórias que nesse texto escarrado eu grito. Nunca foi, não é, e nunca será somente isso. Talvez, seja muito mais que isso. Mas é que angustiado e rastejando entre as flores mais lindas e os excrementos mais mal-cheirosos – a humanidade só quer entender. Mas por que ela não entende?


Nota do Editor: Fábio de Lima é jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.

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