Esperava pela ligação de outra pessoa, por isso, quando o telefone tocou atendeu com tranqüilidade. Mas a calma deu lugar a um frio no estômago quando percebeu que era ele. - Oi Júlia, é o Alexandre... Martins – disse isso como se apenas o primeiro nome não fosse o suficiente para ela reconhecê-lo. Pega de surpresa, ela não teve como disfarçar a sensação que aquele telefonema causava a ela e, a julgar pela pressa com que falava, a ele também. Não se viam há bastante tempo, o que ela achava bom, já que temia perder o controle ao seu lado. No entanto, ele freqüentava seus sonhos diariamente. Não raro o imaginava como protagonista de cenas de amor, em que se declarava dizendo não mais suportar a distância. Considerava positivo o afastamento deles, porém, a esperança de que o fato de não vê-lo acarretasse o esquecimento caíra por terra. Pelo contrário, só fizera aumentar a ânsia por sentir seu toque. Respondeu ao telefone tentando demonstrar calma, mas com o rosto vermelho e, logo depois, em chamas assim que ele revelou o motivo da ligação. Queria sair com ela, precisava conversar sobre um assunto que ele imaginava que somente ela poderia ajudar. Sentou-se, absorta pela idéia de estar sozinha com ele, onde quer que fosse. Procuraram um local mais retirado, onde pudessem conversar e, quem sabe... O assunto realmente era sério e ela ficou feliz por ele ter confiado nela. Sentaram de frente um para o outro e ela evitava pousar a mão em cima da mesa, temendo que ele a tocasse. A conversa durou mais de uma hora e, assim que chegaram àquele ponto constrangedor em que reina o silêncio e, costumeiramente tomam-se decisões erradas, ela afirmou que precisava ir embora. Ele não relutou. Pagou a conta sem deixar que ela ajudasse e abriu a porta do carro para ela, atitudes que contrastavam com seu perfil áspero. Durante o trajeto era nítido o incômodo de ambos. Ela escorava-se na porta enquanto mantinha os olhos fixos na rua. Ele, dirigia mudo. As respirações eram ofegantes, não dava para esconder. Apoiou a mão no assento e ele, instintivamente, começou a acariciá-la. Ela correspondeu, entrelaçando seus dedos aos dele, mas ainda sem olhá-lo. Quando pararam em frente à sua casa não queriam soltar-se. - Por quê? - perguntou. - Por que o quê? – questionou ele. Virou-se para fitá-lo. - Por que você está pegando na minha mão? - Eu gosto disso – falou com calma. - Por quê? - Por que você acha? Ela estava cansada de meias-palavras, de conversas enigmáticas, frases interrompidas. - Só você pode me falar o motivo. E eu quero saber agora. O vigor de sua voz demonstrava que não estava para brincadeira. - Tá bom. Você me atiça, me deixa louco para te beijar! É isso. Ele nunca havia dito nada tão claro, com todas as palavras, embora ela, intimamente, já soubesse. Suas mãos ainda estavam unidas, apertando-se uma a outra, quase machucando-se. Era visível a tensão e o desejo de ambos, mas ninguém queria ceder. Ela, como de costume, tentaria um meio de fugir. Tentou soltar-se dele, pegou a bolsa com a outra mão e abriu a porta do carro. Nesse momento, ele puxou-a com força, com um vigor que a fez estremecer. - Você não vai sair assim – e a proximidade dos dois a permitia sentir o ar quente de sua boca. Soltou a porta, que voltou a fechar-se. Estava entregue, não teria reação a qualquer que fosse a atitude dele. A mão rígida encontrou sua cintura, apertando-a e depois descendo por seus quadris. Ela quase sorria à espera do beijo, querendo prolongar aquela sensação deliciosa de sedução. Foi então que ele passou o braço por trás dela e a puxou de encontro para seus lábios. Sua mão envolvia o pescoço dela e os dedos entravam em seu cabelo. Ela já não sabia mais onde estava quando ouviu o tu-tu-tu do telefone. Nota do Editor: Cecília França é jornalista.
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