As capitais e as principais cidades brasileiras, com mais de 200 mil eleitores e onde nenhum candidato a prefeito de primeiro obteve 50% ou mais dos votos, começam a campanha do segundo turno, restrita aos dois mais votados. É uma fase bipolar do processo, onde os concorrentes se opõem frontalmente e, em conseqüência, podem ocorrer exageros, até desatinos. Por causa disso, o Ministério Público Eleitoral já advertiu que, com a devida seriedade, estará de olho para punir as baixarias. Além disso, considerará crime eleitoral o uso de vãs promessas em troca de votos, inclusive aquelas demagógicas e puramente eleitoreiras, já vistas no primeiro turno, onde aparecem o governador e o presidente da República pedindo voto para o candidato e dizendo que se ele (o candidato) for eleito, liberará verbas ou fará algum benefício para o município. Falam como se o dinheiro público fosse deles e estivesse em seus bolsos. Anda bem a promotoria eleitoral ao fazer essa observação. Isso porque o eleitor não pode ser induzido a "trocar" o seu voto por obras públicas, verbas ou qualquer outra coisa que os governantes dos níveis superiores venham a remeter às suas cidades. Toda essa destinação de recursos - é bom ficar definitivamente entendido - é pura obrigação do governador e do presidente e, se ele for um governante responsável, jamais vai mandar obras ou dinheiro para uma cidade atendendo apenas a critérios políticos. É necessário, antes de tudo, que o empreendimento respeite critérios técnicos e esteja calcado em projetos que atendam às necessidades do lugar e sejam economicamente viáveis. Infeliz e irresponsavelmente, há muito tempo, as eleições brasileiras foram transformadas num palco de promessas cujos autores e até o próprio eleitorado sabem, de antemão, serem de impossível cumprimento. Esse momento cívico, que os candidatos e as lideranças políticas deveriam aproveitar para discutir com o povo os problemas da cidade e a melhor forma de solução (como se fazia na Grécia antiga, o berço da democracia), acaba transformado num verdadeiro picadeiro de circo onde os candidatos atuam como verdadeiros mágicos prestidigitadores e o povo fica com cara de palhaço. Para o bem do país e, principalmente, para a evolução de nossa sociedade, tem de haver um basta nessa desonestidade. A Justiça Eleitoral tem apertado o cerco, nas últimas campanhas, quanto ao uso do poder econômico. Isso evita as superproduções, as trucagens e a compra descarada de votos através da distribuição de benesses. Quem o fizer já sabe que, se for pego, terá problemas. Agora começa a prestar a atenção no comportamento tanto dos candidatos quanto daqueles que os apóiam, com ênfase especial nas promessas que podem configurar crime eleitoral. Também é um dado positivo. A imprensa, nosso tradicional "quarto poder", faz bem quando denuncia os abusos. Para ser honesto e respeitoso ao eleitor, o candidato não pode prometer o impossível. Principalmente agora, no segundo turno. Supõe-se que os dois vitoriosos do turno inicial saibam a real situação da Prefeitura que pretendem governar, suas fontes de recursos e os problemas a enfrentar. Se não souberem, não são dignos do cargo e, para o povo, não valerá a pena neles votar... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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