Acho que a exclusão social não se ameniza com os programas de combate à fome, por meio de doações ou benefícios. Se a inclusão ocorre com a aplicação dos dispositivos de cidadania, que incluem o poder de consumo, quem vive à custa de benefícios ou doações não está inserido neste contexto. Acho que os maiores beneficiados, de fato, com essa política de assistencialismo, são os políticos. Isso garante seus currais e cabrestos, que rendem mais votos do que a lavoura rende produtos essenciais à vida. O povo se arrasta numa crise interminável, pela falta de recursos financeiros, advindos da escassez de emprego e renda. Os governantes se mostram alarmados com a situação, afirmam não dispôr de dinheiro para garantir uma política de igualdade social, mas têm dinheiro para dar cesta básica, bolsa-família, outros tipos de ajuda financeira a milhares de brasileiros sem ocupação, quando tudo isso deveria ser trocado por serviços que ajudassem a manter o progresso do país. É claro que não entramos no contexto da corrupção, do dinheiro concentrado entre grupos, dos recursos desperdiçados com medidas desnecessárias, que também contribuem grandemente para o caos em que vivemos. Porque será que os governos não empregam agricultores para trabalhar em terras ociosas da oficialidade, por exemplo? Por que será que ao invés de dar, os governos não negociam com os hoje beneficiados, esses valores? Há inúmeras ocupações que poderiam justificar o que é disponibilizado para as famílias em estado de miséria e fome. Famílias que além de ter com o que viver, teriam dignidade, honra, orgulho. Um país de gente que tem trabalho não precisa de vale idoso, porque o idoso, com uma aposentadoria digna, tem dinheiro para pagar sua passagem. Com o idoso pagando sua passagem, as empresas de ônibus têm mais vagas para funcionários. Com mais funcionários empregados, o comércio vende bem mais. Com o comércio vendendo bem mais, há mais emprego para comerciários. Não há nada mais eficiente para fazer dinheiro, do que o próprio dinheiro em circulação. A chance do fim da pobreza está na possibilidade de uma mudança de postura de todos os lados. O cidadão precisa ter mais orgulho e exigir dos governantes as condições de trabalho e sustento próprio, para não precisar de seus favores, devendo-lhes votos obrigatórios. Os políticos precisam ser mais honestos, menos preguiçosos e corruptos, deixando que o dinheiro que não lhes pertence cumpra sua função de promover o progresso, a divisão de renda e a igualdade social. O progresso da nação, nação mesmo, em seu quesito povo, pessoas, cidadãos. Sou um leigo e quase nada sei, mas sei que o mundo não precisa ter fome. Não há motivo para miséria. O que produz tudo isso é a ganância de alguns, que dominam e tomam tudo para si. A crise que vivemos é de vontade política. De boa fé dos que estão no poder. Sobretudo, de brio ou vergonha na cara, dos cidadãos comuns, que aceitam viver mal. Sob o jugo da injustiça do poder. Nota do Editor: Demétrio Sena é educador no Colégio Estadual José Veríssimo - Magé (RJ). Palestrante. Membro da Academia Mageense de Letras.
|