A prisão do empresário Marcos Valério - que, há três anos, se notabilizou por ser o operador do "Mensalão", esquema que financiava com dinheiro ilegal e público as campanhas, farras e mordomias de privilegiados políticos e burocratas oficiais - enche de esperança o cidadão comum, que ainda espera pelo decisivo e soberano pronunciamento do Supremo Tribunal Federal em relação a toda aquela sujeira. A prisão de agora tem outra motivação, mas o personagem é o mesmo cuja nefasta atividade lançou uma nuvem negra sobre importantes figuras da República, tanto do governo quanto da oposição. No raciocínio popular, as inaceitáveis safadezas conhecidas como Mensalão, Sanguessugas, dinheiro na cueca e outras, terminaram em "pizza", por envolverem figuras de alto poder. Essa impressão decorre do corporativismo que faliu as CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) bombástica e oportunisticamente instaladas no Congresso Nacional para apurar os casos. Depois de discursos e entrevistas que pareciam anunciar o fim das irregularidades e até da desonestidade, restou só o fortalecimento da impunidade. Resultado: descrédito e apatia popular. Mas agora, quando se vê o principal personagem do Mensalão atrás das grades (ainda que por outro motivo) e a Justiça analisando suas ações anteriores, é de se esperar que neste foro será feita a moralização que o Pais tanto espera. A Justiça, até o momento, não deu motivos para o povo dela duvidar. Pelo contrário, tem avançado, executando supletivamente tarefas que dolosamente o Executivo e o Legislativo negligenciaram, como, por exemplo, a fixação do número de vereadores nas Câmaras Municipais, a fidelidade partidária e outras. Espera-se que, na fase judicial, onde os julgadores são vitalícios e inamovíveis e não precisam se preocupar com as próximas eleições, os interesses do povo encontrem guarida. O Judiciário brasileiro enfrenta falta de recursos, os processos levam anos e existe a possibilidade de muitos recursos. Mas ninguém pode se queixar da postura dos julgadores que, dentro de suas possibilidades, aplicam a lei sem tergiversar. E aqueles que se desviam, são punidos com rigor pelo próprio meio. A esperança do povo, já desfeita em relação ao Executivo e Legislativo, hoje mora no Judiciário. Não é demais sonhar que Marcos Valério e os demais envolvidos no Mensalão paguem tudo exemplarmente e sejam excluídos da política e da administração pública. Que os recebedores de comissões pela venda de ambulâncias devolvam o dinheiro roubado e que outros fraudadores paguem, com juros e multas, todos os prejuízos que deram à coletividade. A Justiça também é a depositária da crença de que, por seus atos, ainda saberemos as reais causas dos grandes acidentes da Gol e da Tam, os prejudicados serão ressarcidos da melhor maneira e os culpados punidos com rigor. Que venha da toga e da mulher de olhos vendados a solução que os políticos não têm conseguido conferir a este país... Nota do Editor: Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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